9 DE OUTUBRO DE 2014
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A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — O mesmo aconteceu com os acessos à Internet, com a rede 3G e com
um sem número de produtos nascidos da articulação entre uma empresa com capitais públicos e uma
universidade — imaginem só! — do Estado.
Há quatro anos, a PT tinha a liderança do mercado móvel na América Latina; hoje, é uma empresa
endividada «até ao pescoço», sem capacidade de investimento, escorraçada pelo seu obsoleto parceiro
brasileiro e à beira de ser comprada por um fundo especulativo — o mesmo fundo, diga-se de passagem, que,
depois de adquirir a Cabovisão, fez do despedimento de 100 funcionários o seu primeiríssimo ato de gestão.
Sr.as
e Srs. Deputados, não será, certamente, coincidência que a queda livre da PT coincida,
temporalmente, com a alienação da golden share do Estado na empresa. Também não é coincidência que o
momento chave da destruição de valor na PT coincida com a venda da Vivo e que isto tenha acontecido, num
primeiro momento, com a oposição do Estado, mas este Estado acabou por se vergar à pressão do maior
acionista da PT, o BES (Banco Espírito Santo).
O Banco de Ricardo Salgado precisava de liquidez e o futuro de uma empresa estratégica portuguesa era a
sua última preocupação no momento. Foram essas necessidades de liquidez que fizeram com que a PT,
durante anos e anos a fio, fosse a empresa que mais generosos dividendos foi distribuindo. A distribuição de
dividendos, aliás, muito acima das suas possibilidades, foi o esquema encontrado por Zeinal Bava e Henrique
Granadeiro para gerirem uma complexa teia de interesses. E o resultado está à vista de todos!
A sua ligação umbilical às necessidades da finança — leia-se: ao Banco Espírito Santo — acabou por
colocar o futuro da empresa em risco.
Não é A Queda de um Anjo, incensado até há pouco tempo pelos sucessivos Governos, pela finança e até,
mesmo, pelos colunistas da imprensa especializada, que nos deve preocupar. O que nos preocupa é o futuro
do operador incumbente das comunicações em Portugal; o que nos preocupa é o futuro de milhares e milhares
de trabalhadores; o que nos preocupa é o investimento em infraestruturas vitais para a modernização do País.
Não nos esquecemos que a alienação da golden share foi um dos temas de campanha interna do PSD,
juntando todos, à vez, na defesa desta irresponsabilidade. E, por isso mesmo, está na altura de confrontar
Pedro Passos Coelho com as suas próprias garantias.
Dizia, então, o Primeiro-Ministro que o fim das golden shares do Estado teria lugar, acautelando os
interesses estratégicos do País.
Srs. Deputados, de duas, uma: ou Passos Coelho, na forma distorcida como vê a economia e a sociedade,
entendia que o interesse estratégico do País passava por entregar uma das mais importantes empresas
nacionais a um pequeno fundo internacional, sem nenhum conhecimento ou capacidade de investimento, ou,
então, estamos perante um ato consciente de favorecimento dos interesses privados.
Vozes do BE: — Muito bem!
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Em ambos os casos, é o interesse nacional que, mais uma vez, sai
lesado.
Sr.as
e Srs. Deputados, nós não nos esquecemos que PSD, PS e CDS foram-nos garantindo, ano após
ano, que as privatizações não iriam colocar em causa a permanência dos sectores estratégicos em mãos
nacionais. O atual Governo jurou-nos, depois, que o fim das golden shares não hipotecaria os interesses do
País. Tudo furado!
Não só as privatizações de sectores como o da energia ou combustíveis não trouxeram os proclamados
benefícios da concorrência, como os monopólios naturais, fundamentais para a soberania nacional, foram
parar às mãos de regimes ditatoriais ou aos bolsos de fundos especulativos, sem qualquer interesse, a médio
ou longo prazo, na economia do País.
O que está em causa, Srs. Deputados, é a irrelevância da PT; o que está em causa é o posto de trabalho
de milhares de pessoas; o que está em causa é a previsível deslocação ou desinvestimento no centro
tecnológico de Aveiro, onde se concentra uma grande fatia do investimento em investigação no nosso País.
Sr.as
e Srs. Deputados, não há como olhar para aquilo que está acontecer aqui e agora, para aquilo que
está a acontecer mesmo à frente dos nossos olhos e insistir, com aquela certeza acrítica de quem está
completamente toldado pelo seu próprio radicalismo ideológico, em dizer que nada correu mal, que isto não
poderia ter sido evitado, ou que não há lições para futuro.