I SÉRIE — NÚMERO 10
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duas empresas? Não vem, designadamente, o sentido de voto dos acionistas que dependem de autoridades
públicas, e, hoje, já neste Parlamento, assistimos à recusa, por parte dessas autoridades públicas, em
esclarecerem as razões pelas quais se demitiram de dar essa orientação de voto.
Faço esta pergunta porque nós estamos aqui a assistir a uma empresa que, antes do verão, valia cerca de
3600 milhões de euros e que, hoje, vale menos de metade desse valor.
Estamos a assistir a nuvens negras que pairam sobre a Portugal Telecom. Estamos a assistir a um
processo de colapso de uma das empresas que poderia ser classificada como uma «joia da República». Esta
empresa tem um historial de investimento público, que é até hoje superior ao investimento privado que alguma
vez nela foi feito. E a grande questão que se coloca é a de saber como é que foi possível ao Estado, ao
Governo, a este Governo, abdicar, a troco de nada, da golden share que tinha naquela empresa,…
O Sr. Sérgio Sousa Pinto (PS): — Muito bem!
O Sr. MarcosPerestrello (PS): — … quando, mesmo que a legislação comunitária o obrigasse a abdicar
dessa golden share, a mesma legislação comunitária prevê mecanismos alternativos de defesa do interesse
público e dos interesses estratégicos do Estado.
Aplausos do PS.
O Estado abdicou da golden share, o Governo abdicou da golden share e abdicou, também, dos
mecanismos alternativos de proteção do interesse público e de proteção dos interesses estratégicos
portugueses.
O interesse estratégico que estava subjacente à fusão com a Oi era a criação de uma grande operadora
lusófona e uma das primeiras medidas conhecidas publicamente por parte da Oi foi precisamente a venda da
Africatel, retirando a Portugal Telecom do mercado africano de língua portuguesa.
Nós estamos a assistir a uma ação com contornos muito graves. Podemos procurar responsabilizar — e
têm, com certeza, responsabilidades em todo este processo — os gestores e os administradores desta
empresa, mas não podemos, atrás da responsabilidade desses gestores, esconder a verdadeira
responsabilidade daqueles que escondidos atrás das moitas têm responsabilidade na condução deste
processo.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente: — Sr.ª Deputada Mariana Mortágua, tem a palavra para responder.
A Sr.ª MarianaMortágua (BE): — Sr.ª Presidente, começo por agradecer ao Sr. Deputado do PS a
questão que colocou e por ter referido aquilo que muitas vezes já temos dito: que há um motor que move as
bancadas da maioria e do Governo, que é o radicalismo ideológico de que sofrem.
Protestos do PSD.
E, de facto, esse radicalismo impede o Governo, impede o PSD e o CDS de verem até aquilo que seria
racional do ponto de vista económico.
O radicalismo ideológico liberalizador, privatizador, deste Governo é de tal forma que estão dispostos a ver
a economia portuguesa a afundar-se em nome desse mesmo radicalismo. Mas também é verdade que quando
o Governo chegou ao poder já tinha muitas empresas privatizadas e já tinha muito poucos mecanismos que
pudessem proteger a economia de um governo radical como este. Também é verdade que o facto de um
governo tão radical como o que temos hoje poder ter feito os estragos que está a fazer na economia e na
sociedade é porque a privatização da PT e de outras empresas estratégicas já tinha começado antes.
Assim, também não posso deixar de perguntar ao PS se faz o mea culpa, porque os processos de
privatização começaram particularmente com o PS, que foi um partido que privatizou até talvez mais do que o
PSD neste País.