I SÉRIE — NÚMERO 10
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Aqui, hoje, afirmamos: «Sim, está a correr mal! Sim, poderia ter sido evitado! Sim, há lições para o futuro!».
Os sectores estratégicos nacionais têm de estar em mãos públicas, a começar pela TAP, que o Governo
tenta vender à pressão, sobre os escombros da PT, que tanto contribuiu para destruir.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Sr.ª Deputada, a Mesa regista a inscrição dos Srs. Deputados João Oliveira, do PCP,
e Marcos Perestrello, do PS, para fazer perguntas.
Pergunto-lhe de que modo pretende responder, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Responderei um a um, Sr.ª Presidente.
A Sr.ª Presidente: — Com certeza, Sr.ª Deputada.
Sr. Deputado João Oliveira, tem a palavra.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Mariana Mortágua, queria, em primeiro lugar,
saudá-la por trazer este tema à Assembleia da República, em declaração política, e registar este silêncio das
bancadas que apoiam o Governo, que é, de facto, significativo do desinteresse pela perda de ativos
estratégicos para o próprio País, pela perda da capacidade de intervenção pública na economia e em sectores
essenciais, como é o das telecomunicações. E, pelos vistos, não se dão por incomodados, relativamente
àquilo que é um processo de empobrecimento do País a partir de um ativo estratégico, como é a Portugal
Telecom.
Julgo que esta atitude da maioria é significativa daquilo que tem sido a sua orientação política.
Na declaração política que a Sr.ª Deputada teve oportunidade de proferir, fez referência a um aspeto que é
central em todo este processo e que tem a ver com aquilo que é hoje evidente, que é o prejuízo para o País da
política de privatizações, que entrega aos grandes grupos económicos ativos estratégicos para o País, coloca
empresas estratégicas e sectores estratégicos para o País nas mãos do negócio privado. O exemplo da
Portugal Telecom é claríssimo: com a intervenção de vários governos, que se sucederam, na criação de
condições para a efetiva entrega dessa importante empresa pública aos interesses privados, houve a
acumulação do lucro e da especulação, até da especulação financeira, como hoje está claro, e, sobre isto, não
pretendem assumir responsabilidade nenhuma.
Mas há, agora, neste processo, um dado atual, sobre o qual, de resto, hoje mesmo, o PCP questionou quer
a Sr.ª Ministra das Finanças quer o Governador do Banco de Portugal, que tem a ver com a intervenção que
este Governo, suportado pelas bancadas do PSD e do CDS, teve já no destino da Portugal Telecom, porque o
Novo Banco, como herdeiro dos 10% que o BES detinha na Portugal Telecom, participou na Assembleia
Geral, que foi realizada há pouco mais de um mês e que foi decisiva no quadro do processo de fusão com a
brasileira Oi.
Hoje mesmo, de manhã, confrontámos a Sr.ª Ministra das Finanças e o Governador do Banco de Portugal
para saber quem é que, afinal de contas, deu mandato ao Novo Banco para assumir a posição que ali foi
assumida, com que orientação e com que perspetiva estratégica.
Da parte do Governador do Banco de Portugal, a resposta que obtivemos foi a de que a decisão era do
Conselho de Administração do Novo Banco, porque o Banco de Portugal não faz micromanagement — é esta
a forma como o Governador do Banco de Portugal se refere a uma empresa estratégica para o futuro do País!
E da parte da Sr.ª Ministra das Finanças, nem uma palavra!
Ora, o que queria perguntar-lhe, Sr.ª Deputada Mariana Mortágua, é se entende, ou não, como o PCP
entende, que este processo não pode passar à margem da responsabilidade política de quem tem intervenção
nesta matéria, nomeadamente por parte do Governo.
Pergunto-lhe, Sr.ª Deputada, se entende, ou não, que é inaceitável que o Governo português e as
bancadas que o apoiam na Assembleia da República manifestem este grau de desprezo pelo futuro de uma
empresa estratégica para o desenvolvimento do País e que não pode, obviamente, ficar sujeita, não pode ficar
à mercê das lógicas da especulação financeira e da acumulação de lucro, como, de resto, é evidente neste