I SÉRIE — NÚMERO 15
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Temos, hoje, assim, uma Europa cada vez mais neoliberal, onde o que conta são os mercados e,
sobretudo, a banca e onde os povos, as pessoas pouca relevância assumem.
Temos, hoje, uma Europa pouco recomendável, a esgravatar por todos os lados à procura de uns tostões,
aqui e acolá, seja retirando nos salários, seja retirando no 13.º mês, no subsídio de férias, nos apoios sociais,
nas reformas, tudo para sossegar os mercados, para salvar a banca do buraco em que ela própria se meteu e,
com a cumplicidade dos Governos, acabou por arrastar também os Estados e os povos que nada têm a ver
com a situação criada. Isto é ainda mais grave, quando a situação imposta se chama austeridade e sacrifícios
para os povos, quando todos sabemos que não haverá crescimento económico com uma política de
austeridade recessiva como aquela que está a ser seguida em Portugal.
Mas esta Europa que esteve e está ao serviço dos grandes interesses e dos grandes grupos económicos,
pelos vistos, assim vai continuar. Basta ver a composição da nova Comissão Europeia, essa mesma
Comissão que, na tomada de posse, mostra grandes preocupações sociais, mostra grandes preocupações
com os mais desfavorecidos, mostra grandes preocupações com o emprego, mas todos sabemos que, com
esse discurso, apenas procura esconder o propósito de dar continuidade às políticas neoliberais que
colocaram a União Europeia na atual situação de recessão e de crise.
Basta olhar para as ligações dos novos comissários aos grandes grupos económicos e financeiros para se
perceber a sinceridade das suas preocupações com as questões sociais: uns, têm grandes ligações aos
grupos financeiros da City, de Londres e até se recusam a divulgar as empresas por onde passaram; outros,
têm ligações às empresas petrolíferas, como a Ducar e a Petrologis; e outros também passaram pela Goldman
Sachs.
Não admira, assim, que a Europa continue a ser reduzida a um instrumento ao serviço dos grandes
interesses económicos e financeiros e que os povos, as pessoas, os europeus continuem a não ter qualquer
relevância nas políticas e nas decisões da União Europeia, que mais parece um clube, um grande clube dos
senhores do dinheiro.
A Sr.ª Presidente: — Antes de prosseguirmos, quero colocar duas considerações aos Srs. Deputados, a
primeira das quais é sobre se devemos terminar este debate antes das votações que estão marcadas para as
12 horas.
Na minha opinião, como estão aqui presentes membros do Governo, por consideração com o trabalho dos
membros do Governo e porque só faltam duas intervenções, penso que podemos concluir este debate, se
estiverem de acordo, para não se perder a sua unidade, depois procederemos às votações regimentais e, em
seguida, entraremos no último ponto da nossa ordem de trabalhos.
Pausa.
Dado que ninguém se opõe, vou, então, dar a palavra, para uma intervenção, à Sr.ª Deputada Ana Catarina
Mendonça.
A Sr.ª Ana Catarina Mendonça (PS): — Sr.ª Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs.
Deputados: Creio que estes debates começam a ser um bocadinho confrangedores para todos nós.
Entre um Governo que assume uma postura totalmente acrítica de tudo o que está a acontecer na União
Europeia, bancadas à direita que absorvem como boas todas as decisões do diretório europeu e a descrença
da esquerda parlamentar em relação ao projeto europeu, estamos, Sr.ª Presidente, na dimensão que a crise
nos trouxe, sem aquilo que este debate, hoje, devia ser. Este não devia ser um debate para cumprir
calendário, mas um debate para propor alternativas e para saber o que quer o Governo português fazer no
atual contexto.
Se é verdade o que a Sr.ª Deputada Mariana Mortágua aqui disse há pouco, que sucessivamente as
presidências europeias assumem como prioridade o crescimento e o emprego, não é menos verdade, Sr.ª
Presidente, que a experiência demonstra-nos que, quando há vontade política dos Governos, então, é possível
cumprir o objetivo de trazer de novo à Europa crescimento e emprego.
Creiam, Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, que o Sr. Secretário de Estado nos deixa aqui ainda mais
perturbados. O Sr. Secretário de Estado acha que o Governo tem feito muito pelo desemprego jovem em