I SÉRIE — NÚMERO 26
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Sr. Deputado, e, portanto, felicito-o por isso mesmo, dizendo-lhe que acompanhámos com interesse o que foi
o Congresso do maior partido da oposição, como é, de resto, nossa obrigação.
Vou referir três notas que tirámos do Congresso do Partido Socialista e, depois, termino com duas
perguntas.
A primeira nota é que o Partido Socialista ainda não foi capaz de fazer uma reflexão crítica sobre a razão
pela qual, em 2011, Portugal estava na situação em que se encontrava, ou seja, uma situação de emergência
— para não dizer de pré-bancarrota, porque os senhores ficam tão nervosos e não vale a pena, não é caso
para tanto —, em que o próprio Ministro das Finanças de então, do Governo da altura, dizia que se Portugal
não tivesse um financiamento extraordinário, um programa extraordinário, não iria conseguir cumprir as suas
obrigações mais básicas com os tais pensionistas e com a função pública de que hoje tanto falam.
Lendo a moção do Dr. António Costa, percebe-se que o Partido Socialista não só não fez qualquer reflexão
crítica em relação a esse seu passado como até atribui essa circunstância de ter sido pela mão do Partido
Socialista que chegámos a uma situação de pré-bancarrota — já o disse! Não o queria dizer, mas já o disse —
, atribui esse facto à mundialização da China e ao alargamento da União Europeia aos países de Leste.
A primeira questão que acho que cumpria esclarecer, e desde já a coloco, é se concorda com esta análise,
ou seja, não se passa nada em Portugal, não houve nada em Portugal, a culpa de estarmos numa situação de
emergência é da mundialização da China e do alargamento da união Europeia aos países de Leste.
Depois, há uma opção legítima — permita-me, com humildade, este conselho — que pode custar caro ao
Partido Socialista, ou de que o PS se pode arrepender, na qual notámos que há uma viragem clara à
esquerda, mais à esquerda. É, todavia, uma opção política e democrática legítima.
Portanto, tomámos boa nota e o País ficou a saber que, em matérias que até aqui mereceram consenso
entre o PS, o PSD e o CDS, matérias na área da União Europeia, na área da zona euro, na área da defesa, na
área da segurança, passa a ser, por parte do Partido Socialista, procurado consenso junto do PCP e do Bloco
de Esquerda. São opções!
Protestos do Deputado do PS Pedro Nuno Santos.
A terceira e última nota, que me parece, de resto, a mais relevante, é que o Sr. Deputado, tal como no
Congresso, fala no Estado social que quer defender. Mas, para ter Estado social, se calhar, convém ter
dinheiro para o sustentar e convém, já agora, não levar o País a uma situação de emergência — outro
conselho, com humildade. Depois, o Sr. Deputado diz que quer um Estado moderno, eficaz, solidário, quer
qualificar, quer repor… Mas como?
É que, senão, se o Sr. Deputado não disser ao que vem, fica a impressão — e eu não quero que fique —
de que o projeto do Partido Socialista é um puro projeto pessoal de poder. Se os Srs. Deputados não o
disserem, é um puro projeto pessoal de poder.
Os Srs. Deputados querem uma maioria absoluta, que é legítimo, os Srs. Deputados querem uma maioria
social ainda maior do que a maioria absoluta, mas ao que vêm, nada dizem. Querem um cheque em branco.
Protestos do Deputado do PS João Galamba.
Qualquer pessoa que pense um pouco será tentada a concluir que os Srs. Deputados querem o poder pelo
poder e eu queria dar-lhe uma oportunidade para o Sr. Deputado dizer, na tal leitura inteligente dos tratados,
de que tanto falam, como é que vai financiar os investimentos na educação e na saúde, que agora anunciou.
Onde corta? Quais são as áreas? Concretize! Vai cortar onde? Em que ministérios? Vão reduzir orçamentos
de que Ministérios para subir os orçamentos destes que acabou de referir? Que impostos vão aumentar?
Sobre quem, nomeadamente para cumprir a promessa do IVA da restauração? Seja concreto, Sr. Deputado,
porque, senão, pode acontecer ao Partido Socialista aquilo que, de resto, aconteceu ao Primeiro-Ministro
sueco.
Como sabe, eu estava a acompanhar o Congresso do Partido Socialista e a primeira palavra do Secretário-
Geral foi para saudar o que então dizia ser o primeiro de muitos primeiros-ministros que iria ser eleito na
Europa. Pois bem, dois dias depois, demitiu-se.