I SÉRIE — NÚMERO 60
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Aplausos do PCP.
Mas, Sr. Primeiro-Ministro, esta política de dois pesos e duas medidas não é um caso isolado; antes,
parece ser uma bitola que predomina na ação governativa do País, nomeadamente quando se trata da política
de rendimentos, de preços e de impostos.
Veja lá, Sr. Primeiro-Ministro: enquanto a maioria dos trabalhadores e da população vê cair, de forma
drástica, os seus rendimentos, particularmente os salários, com alguns setores a atingirem reduções
superiores a 20%; enquanto todos os dias os trabalhadores e as populações veem cair sobre as suas cabeças
medidas contidas no Orçamento — impostos verdes, IMI, milhares de trabalhadores da Administração Pública
para a mobilidade —, há setores que têm sempre garantidas as suas rendas, diria, as suas chorudas rendas, à
custa de todos.
Estão aí, em divulgação, os resultados de algumas empresas privatizadas que prestam serviços essenciais
à população, como à economia, e é o caso da EDP e do fornecimento da eletricidade.
Segundo os resultados divulgados na semana passada, no ano de 2014 os lucros terão atingido os 1040
milhões de euros. Ao todo, desde 2005 a 2014, estaremos a falar em cerca de 10 000 milhões de euros de
lucros acumulados, sendo uma boa parte distribuída em forma de dividendos para os acionistas, com uma
grande parte que ala, voa daqui para fora! Tanto dinheiro e tanta falta que ele faz ao País, Sr.ª Presidente, Sr.
Primeiro-Ministro!
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Mas é tanto mais chocante quanto depois se permitem aumentos
sucessivos das tarifas elétricas, como, aliás, aconteceu no início de 2015 com o Governo a caucionar um novo
aumento de 3%. Preços de eletricidade que, é bom lembrar, foram brutalmente agravados em 2012 por via do
aumento do IVA da eletricidade, de 6 para 23%.
De facto, Sr. Primeiro-Ministro, a estes a crise nunca lhes toca. Faça sol ou faça chuva, os seus acionistas
sabem de antemão que a sua receita anual está garantida. Rendas sempre certas e sem risco. E ai de quem
se atreva a pagar atrasado a fatura de eletricidade!
Sabe, Sr. Primeiro-Ministro, é por estas e por outras que este Governo já não tem ponta por onde se lhe
pegue.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Sr. Primeiro-Ministro, tem a palavra.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Jerónimo de Sousa, percebo que, na sua ideia,
estivesse já inculcado — e direi não neste debate, há vários debates — o conceito de que existem dois pesos
e duas medidas.
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — O problema é que não sou só eu!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Mas, Sr. Deputado, a sua observação não cola com aquilo que eu tinha
acabado de responder. Não leve a mal. E, portanto, trata-se mais de um preconceito que o Sr. Deputado
trouxe ao debate do que uma consequência do próprio debate.
O Sr. João Oliveira (PCP): — É uma constatação!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Acabei de dizer ao Sr. Deputado que não reclamei, nunca, na minha vida
contributiva nem na minha vida fiscal, um estatuto diferente do de qualquer outro português. Nenhum, Sr.
Deputado! E fui tratado como muitos outros, rigorosamente na mesma.
Portanto, o Sr. Deputado não pode dizer que há dois pesos e duas medidas!