19 DE MARÇO DE 2015
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e, agora, tudo indica que o Secretário de Estado Núncio, para além de invocar a Imaculada Conceição,
também diz que a culpa é dos serviços!
Sr. Deputado, a pergunta que tenho a fazer ao PCP é a de saber se é ou não gravíssima esta ideia — se
não é do Governo, é, certamente, de um serviço tutelado pelo Governo — de que, depois de perseguirem os
cidadãos com mais impostos e mais obrigações fiscais, aparentemente, em vez de considerarem que VIP são
todos os portugueses e todos os contribuintes portugueses, temos aqui uma pequena casta seleta, cujo
conteúdo ainda é desconhecido mas que este Parlamento tratará de apurar.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Paulo Sá.
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Sr. Presidente, Sr. Deputado João Galamba, tem razão, não foi apenas o
Primeiro-Ministro que veio aqui cinco vezes negar a existência da lista. Durante a última semana, tivemos
também a Ministra das Finanças a negar a existência da lista e o Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais a
negar veementemente a existência desta lista. Mas, hoje, tiveram de reconhecer essa existência, perante os
factos que vieram a público e que não foram trazidos pelo próprio Governo.
Obviamente que, sabendo agora da existência da lista, temos de esclarecer aquelas questões que eu
colocava há pouco, ou seja, quem é que criou esta lista. Porque há notícias, que vieram a público, de que
poderá ter sido o Governo, através do Secretário de Estado, a dar indicações à Autoridade Tributária para criar
esta lista ou poderá ter sido o próprio Secretário de Estado a entregá-la à Autoridade Tributária. Temos de
esclarecer se isto aconteceu e quem decidiu os objetivos com que foi criada esta lista.
A questão que o Sr. Deputado João Galamba coloca é muito importante: será que todos os cidadãos têm
direito à proteção dos seus dados fiscais ou apenas alguns, os que integram esta lista VIP?
E, relativamente ao combate à fraude e à evasão fiscais, todos os cidadãos estão sujeitos a este combate
ou há alguns, os que integram esta lista VIP, que não estão sujeitos a este combate à fraude e à evasão
fiscal?
São questões que têm de ser cabalmente esclarecidas. O Governo, durante uma semana, fugiu a
responder, mas o Sr. Deputado Duarte Pacheco — permita-me que retome agora a sua interpelação — tentou
«sacudir a água do capote» do Governo. Na ótica do Sr. Deputado, na da maioria e, provavelmente, na do
Governo, a culpa é sempre das chefias intermédias, nunca é do Governo.
O Sr. David Costa (PCP): — Bem lembrado!
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Exatamente!
O Sr. PauloSá (PCP): — Nós rejeitamos essa posição. Independentemente do papel que as chefias
intermédias possam ter tido — e, se agiram contrariamente à lei, tem de haver as necessárias punições —, o
Governo tem a responsabilidade política pela existência desta lista VIP e, Sr. Deputado João Galamba, isso
exige que sejam impostas consequências aos responsáveis políticos do Governo desta área.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — A próxima pergunta é do Sr. Deputado Pedro Filipe Soares, do Bloco de Esquerda.
Tem a palavra, Sr. Deputado.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Paulo Sá, começo por cumprimentá-lo
pela declaração política que fez e vou diretamente àquela que me parece a questão do dia, a chamada «lista
VIP de contribuintes».
A existência dessa lista é, de facto, inaceitável numa democracia, num Estado de direito que diz que trata
por igual todos os cidadãos e todas as cidadãs e é o caso político que mancha a palavra do Governo, quer do
Primeiro-Ministro, quer do Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, na última semana. Aliás, é curioso — eu