10 DE ABRIL DE 2015
25
A Sr.ª Presidente: — Faça favor de continuar, Sr.ª Ministra.
A Sr.ª Ministra de Estado e das Finanças: — Obrigada, Sr.ª Presidente.
Efetivamente, os trabalhadores dessas empresas públicas viram-se libertos das imposições de reduções
salariais que existiam por estarem no setor público e têm direito, por exemplo, a distribuição de lucros, que é
algo que, naturalmente, os trabalhadores valorizam.
As empresas continuam cá, continuam a criar valor no País, continuam a promover emprego no País,
continuam a pagar impostos no País. Não é uma questão de não nos podermos dar ao luxo de ter empresas
públicas; não podemos é dar-nos ao luxo de ter empresas públicas que gastam mais do que produzem. Isso,
Sr. Deputado, não nos podemos dar ao luxo.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Protestos do PCP.
Quando o Sr. Deputado Jorge Machado pergunta se vamos apresentar um programa de estabilidade que
obedeça às imposições da Comissão Europeia ou defender os interesses nacionais, Sr. Deputado, digo-lhe
que vamos defender os interesses nacionais e respeitar os portugueses que votaram maioritariamente para
esta Casa nos partidos que subscreveram as obrigações do tratado orçamental. Chama-se a isso respeitar os
portugueses, Sr. Deputado.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Srs. Deputados, vamos prosseguir com o debate. Chegámos à fase das intervenções
dos partidos e estão já inscritos o PCP e o PS.
Para uma intervenção pelo PCP, dou a palavra ao Sr. Deputado Paulo Sá.
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Sr.ª Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs. Deputados: Ao longo dos
anos, Governos do PS, PSD e CDS foram impondo uma política fiscal de escandaloso favorecimento do
grande capital, ao mesmo tempo que oneravam, de forma brutal, os rendimentos do trabalho.
Esta política fiscal de esbulho dos rendimentos dos trabalhadores foi acompanhada por uma redução de
direitos laborais, de salários e de prestações sociais, assim como pela degradação dos serviços públicos e das
funções sociais do Estado, aprofundando o desequilíbrio na distribuição de riqueza entre o trabalho e o capital.
A recente reforma do IRC e as alterações em sede de IRS são bem reveladoras das opções do Governo
em matéria fiscal.
A taxa nominal do IRC foi reduzida de 25% para 21% em apenas dois anos; foi aumentado
substancialmente o número de anos em que é possível fazer reporte de prejuízos; foram criados instrumentos
de planeamento fiscal agressivo, particularmente no âmbito da fiscalidade internacional. Estas são alterações
que beneficiam especialmente as grandes empresas e os grupos económicos, permitindo-lhes reduzir
substancialmente o valor dos impostos entregues ao Estado.
Logo em 2014, primeiro ano de aplicação da reforma do IRC, a receita deste imposto caiu 580 milhões de
euros. Nos dois primeiros meses de 2015 já caiu, em termos homólogos, 11%.
Paralelamente, as receitas de IRS não param de aumentar. O Governo e a maioria parlamentar que o
suporta bem tentam justificar este aumento com o anémico crescimento económico e com os resultados do
combate à fraude e à evasão fiscal, mas é uma evidência — que só não vê quem não quer ver — que o brutal
aumento da carga fiscal sobre os rendimentos do trabalho é o resultado da opção, assumida em 2012, de
reduzir o número de escalões do IRS, aumentar as taxas deste imposto em todos os escalões e introduzir uma
sobretaxa extraordinária sobre os rendimentos do trabalho.
Em consequência desta opção, a receita de IRS disparou. Em apenas 3 anos — 2013, 2014 e 2015 — a
receita adicional em IRS será de mais de 11 000 milhões de euros. Ou seja, em apenas três anos, o Governo
quer cobrar aos trabalhadores o IRS de quatro anos.