I SÉRIE — NÚMERO 71
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defendia a renegociação imediata da dívida pública como a solução para os graves problemas que o País
vivia.
Um dia depois, a 6 de abril de 2011, o Ministro das Finanças do Governo de José Sócrates dava conta de
que não existia nos cofres mais do que o suficiente para pagar dois meses de salários, prestações sociais e
para assegurar as diversas funções do Estado.
Com a solução do PCP, com um Estado descredibilizado internacionalmente, sem poder negocial face aos
credores e tendo que, para concretizar essa medida, não negociar, mas incumprir unilateralmente, ficou por
explicar que países ou entidades é que nos iriam emprestar o dinheiro de que já então necessitávamos, que é,
nada mais, nada menos, metade da riqueza nacional gerada num ano.
Na altura, o PCP ainda não assumia de forma taxativa o que hoje, mais às claras, assume: é preciso
preparar o País para a saída do euro. Na prática, se tivéssemos feito, há quatro anos, o que o PCP defendia,
teria resultado nesse desiderato e sem preparação prévia.
Entre a reestruturação unilateral da dívida, a saída do euro, a nacionalização da banca, a fixação
administrativa de preços e outras medidas que o PCP vem defendendo, há uma agenda que não é nem de
longe nem de perto inovadora. Reconheça-se a coerência, embora, permitam-me, persistir nos mesmos erros
e nada aprender com eles é um tipo de coerência de duvidosa qualidade.
Protestos do PCP.
Esse radicalismo ideológico vai passando mais ou menos incólume. Talvez pelo facto de a maior parte das
pessoas ter a consciência de que quem assim pensa não tem o poder executivo que lhe permita dar
cumprimento a essa agenda, muitos consideram que não valerá a pena sequer um escrutínio mais atento
dessas medidas fáceis para problemas difíceis.
O PCP corporiza a estratégia da unidade de frentes e aplica como ninguém a tática das reivindicações
parciais para os diferentes grupos e classes sociais que pretende seduzir. Daí que o discurso
compartimentado que tem para os professores, para os médicos, para esta ou para aquela classe de
funcionários públicos ou de setores da sociedade pode até soar bem porquanto a sua aplicação prática iria
sempre de encontro a muitos desejos individuais.
No entanto, se tudo isso fosse possível levar à prática, seriam exigidos recursos que o País não tem e que
a algum lado teria de ir buscar.
Aplausos do PSD.
Com a mesma ligeireza com que se apresenta uma solução miraculosa para a dívida, convive a suprema
incoerência de se desvalorizar sistematicamente a necessidade de equilíbrio das contas públicas e de só se
apresentar propostas setoriais, que, a ser implementadas no seu todo, agravariam irremediavelmente outros
problemas que pretendem resolver.
Nestes quatro anos, muita coisa mudou internacionalmente. Houve países que, na Europa, beneficiaram de
reestruturações significativas da dívida, mas nem assim essa realidade foi suficiente para desobrigar da
necessidade de reformas.
A saída iminente de um país do euro poderá dar, a prazo, mais um exemplo prático de que os modelos e
ideias que o PCP preconiza resultariam no isolamento do País face ao exterior e em consequências mais
negativas do que positivas para as populações. Mas oxalá, a bem desse povo, que tal não aconteça.
Aplausos do PSD.
Na Venezuela, até agora apresentada por alguns paladinos da esquerda do nosso País como um modelo
social a seguir, luta-se pelos direitos humanos, contra as perseguições políticas, ao mesmo tempo que a
inflação cavalga e os bens alimentares escasseiam nas mercearias.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Não diga mal da Venezuela, porque o Paulo Portas passa lá a vida!