I SÉRIE — NÚMERO 71
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A Sr.ª Carla Cruz (PCP): — Sr.ª Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados: Ao fim de quase
quatro anos de governo, o investimento público, a preços correntes, está a níveis inferiores aos de 1996.
Nessa data, o investimento público representava 4,9% do PIB, hoje representa menos de metade.
O Governo optou por desresponsabilizar o Estado pela dinamização económica e social, reduzindo em
30% o investimento público desde 2011. Para 2020, a meta do Governo é de 18%, o valor mais baixo das
últimas décadas, um valor manifestamente insuficiente para o desenvolvimento e o progresso do País.
O Governo, numa campanha sem precedentes, anda pelo País a acenar com os fundos comunitários para
o período 2014/2020. Diz que Portugal vai receber 26 000 milhões de euros para investimento, mas nada diz
sobre um facto muito importante: é que, nesse mesmo período, Portugal irá pagar 60 000 milhões de euros de
juros.
A brutal redução do investimento público, em particular nas funções sociais do Estado, conduziu à
degradação da qualidade de vida dos portugueses e, ainda, ao declínio da produção nacional e ao
aprofundamento das assimetrias regionais. Para inverter esta situação é imprescindível apostar no
investimento público.
A política de promoção do investimento público é parte integrante da alternativa política patriótica e de
esquerda proposta pelo PCP. Uma política que favoreça o investimento produtivo e a produção de bens
transacionáveis, aumentando o investimento; que assegure e garanta serviços públicos de qualidade, pondo
fim à destruição da Administração Pública e ao despedimento e retirada de direitos aos seus trabalhadores;
que assegure um Serviço Nacional de Saúde universal, geral e gratuito, um sistema público de segurança
social, consolidando o seu caráter universal e solidário, uma escola pública de qualidade que possibilite a
formação integral do indivíduo; que promova o financiamento de programas públicos de investigação
fundamental e aplicada, rejeitando a empresarialização e a mercantilização da investigação científica; que
reforça o papel do Estado nos setores básicos e estratégicos da economia e adote uma política onde as
empresas e as instituições públicas privilegiem o aparelho produtivo nacional; que apoie a agricultura e as
pescas, em particular os pequenos produtores, e defenda as fileiras existentes.
O investimento público, Sr.ª Ministra, é um elemento determinante para a resolução dos graves problemas
nacionais, mas também para a modernização do País, das suas estruturas sociais e económicas.
Uma política que assuma verdadeiramente o objetivo de recuperar a soberania nacional e desenvolver o
País tem de assumir o investimento público como elemento central na resolução dos problemas do presente e
na preparação do País para os desafios futuros.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente. — Tem a palavra a Sr.ª Ministra de Estado e das Finanças para uma intervenção.
A Sr.ª Ministra de Estado e das Finanças: — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: Julgo que talvez se possa
ter gerado aqui alguma confusão relativamente à matéria dos DTA (deferred tax assets) e, porque acho que é,
de facto, uma matéria importante, para que não fiquem mal-entendidos, gostaria de esclarecer várias
questões, que, aliás, tive ocasião de referir quando aqui fizemos a proposta de lei e vim explicá-la e defendê-la
junto dos Srs. Deputados.
Primeiro ponto, isto não se aplica só aos bancos, mas a todas as empresas. Aplica-se a uma categoria
muito particular de perdas, que são as imparidades de crédito e as imparidades com fundos de pensões.
Naturalmente, os bancos são as principais empresas que ficam abrangidas por este regime, mas não
exclusivamente. Isso é um ponto importante, porque, por exemplo, fundos de pensões não é de todo um
exclusivo da banca.
Queria também esclarecer que os DTA são ativos por impostos diferidos quando o princípio da existência
de créditos fiscais é algo que está consagrado no nosso regime fiscal já há muitos anos. O que tivemos foi
uma alteração do quadro regulamentar dos bancos que obrigou a que houvesse também esta alteração para
que aquilo que eram os créditos fiscais pudesse vir a ter o mesmo tipo de impacto no capital dos bancos que
tinha no passado, como foi oportunamente explicado.
Em qualquer caso, queria sublinhar, mais uma vez, que aquilo que está no balanço dos bancos não é,
automaticamente e sem custo, convertível num direito sobre o Estado, nem por um período de tempo ilimitado.