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27 DE ABRIL DE 2015

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Mas há, Senhoras e Senhores, um direito que a Constituição não soube garantir na sua necessária

abrangência, que é o direito de uma geração tomar democraticamente as rédeas do País sem ter de estar

limitada — eu diria mesmo impedida — pelas despesas, dívidas e projetos do passado e com isso impedida

também de ser inteiramente dona do seu destino. Essa geração existe, é a minha geração, é a geração que

vive na pele a vida que existe para lá do défice e para lá do Orçamento. A vida do pagar de volta o que foi

gasto por nossa conta. A vida de quem foi chamado a pagar, e pagou, em desemprego e em impostos um

défice excessivo e uma dívida descontrolada.

Para a minha geração, mais dívida é menos liberdade; mais défice é menos oportunidade. E reclamamos,

por isso, livremente o direito de fazer as nossas escolhas num país normal e europeu.

Sr. Presidente da República, Sr.ª Presidente da Assembleia da República, é sempre mais fácil apontar

defeitos do que virtudes, mas é a nossa democracia, com todos os defeitos que possa ter — outros

assinalaram outros defeitos esta manhã —, que nos dá ferramentas para não repetir os erros do passado e

limitar a ação dos governos para que nunca mais tenhamos de enfrentar a bancarrota e o difícil caminho que é

sair dela.

Saibamos fazer esse trabalho e esse debate para que, independentemente do que está na cabeça de cada

um de nós quando pensamos «Por que é que se fez o 25 de Abril?», possamos deixar um país melhor aos

nossos filhos do que aquele que encontrámos.

Tenho a certeza de que era também o que queriam os Capitães de Abril.

Viva Portugal, sempre!

Aplausos do CDS-PP e do PSD.

A Sr.ª Presidente da Assembleia da República: — Em representação do Partido Socialista, tem a palavra

o Sr. Deputado Miranda Calha.

O Sr. Miranda Calha (PS): — Sr. Presidente da República, Sr.ª Presidente da Assembleia da República,

Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Presidentes do Supremo Tribunal de Justiça e do Tribunal Constitucional, Srs.

Membros do Governo, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados Constituintes, Sr.as e Srs. Deputados, Ilustres

representantes do Corpo Diplomático, Altas Autoridades civis e militares, Distintas e Distintos Convidados,

Minhas Senhoras e Meus Senhores:

No dia em que se celebram 40 anos das primeiras eleições livres após o 25 de Abril de 1974, é meu dever,

desde já, saudar de forma especial as Forças Armadas portuguesas. Os militares, que fizeram Abril e que

quiseram e souberam devolver ao povo uma soberania adiada pela ditadura. Os militares, que souberam

encarnar a mudança necessária e que foi aproveitada para construir o mais longo período de democracia da

nossa história.

Aplausos do PS.

Do programa do MFA para o estabelecimento da democracia em Portugal constava a realização de

eleições livres para uma Assembleia Constituinte.

Quero, assim, saudar todos aqueles, alguns presentes, que foram os rostos da liberdade nesse dia, 25 de

Abril de 1975: os Deputados eleitos para a primeira Assembleia livre em Portugal.

Aplausos do PS, do PSD e do CDS-PP.

Saúdo, igualmente, as forças políticas que concorreram a esse sufrágio e todos aqueles que tornaram

possível a realização material dessas eleições.

Perdoem-me que recorde com emoção o meu próprio testemunho. Eleito nesse dia, no distrito de

Portalegre, tive a honra de receber a maior percentagem eleitoral que o PS, vencedor das eleições, obteve em

todos os círculos eleitorais. Digo-o talvez imodestamente mas sem qualquer arrogância, para recordar que

nessa altura tinha apenas 27 anos e a minha participação nesse ato, seguramente, não valia mais do que a de

todos os outros que lembro com grande saudade, neste momento.