27 DE ABRIL DE 2015
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Olhamos para as quatro décadas passadas desde esse ato eleitoral fundador e vemos a construção de um
regime que pedia um País moderno e solidário, onde os direitos fossem uma realidade para todos e não um
privilégio para alguns; onde a liberdade política e um regime exigente de direitos, liberdades e garantias não
fossem uma dádiva do poder, mas verdadeiros direitos naturais dos cidadãos; onde o acesso à educação, à
saúde e aos demais direitos sociais não dependessem de rendimentos ou de favores; onde o espaço europeu
não fosse uma miragem proibida, mas um espaço natural de integração; onde uma vida de trabalho pudesse
ser recompensada não com caridade, mas com justiça; onde a economia não estivesse enfeudada a alguns,
mas fosse um espaço de iniciativa, de criatividade e de desenvolvimento. Mas vemos também, quatro décadas
passadas dessas primeiras eleições livres, como estamos enredados em ciclos curtos de circunstancialismo e
de conjuntura.
Vemos como o desemprego marca hoje gerações, feitas esquecimento e empurradas para a emigração ou
para o silêncio e para a dependência; vemos como a submissão a uma economia especulativa e sem qualquer
vontade de mudar o mundo para melhor cria pobreza à sua volta; vemos como os falhanços sociais das
políticas de hoje são apresentados como virtudes.
É caso para dizer que falhar perante o País é garante apenas de promessas de novas falhas, sem
arrependimento e sem crítica; falhar desde logo com o emprego, o investimento e a criação de riqueza é falhar
no programa; falhar no seu programa e ser irredutível no erro é falhar com os Portugueses.
Aplausos do PS.
Sr. Presidente da República, Sr.ª Presidente da Assembleia da República, Sr. Primeiro-Ministro:
Assistimos, hoje, ao depauperar de um património que deveria estar acima da gestão circunstancial da coisa
pública. Reporto-me à ideia de Estado, de soberania nacional e aos nossos desígnios futuros.
Portugal é o que as suas instituições são e o que a sua vontade quer. Como afastamos o casuísmo que
nos mina e assumimos os deveres da nossa História e do nosso tempo? Desde logo, fazemo-lo ao saber
afirmar a nossa presença no mundo.
Ao assumirmos a nossa presença europeia, mas ao sabermos estar à altura da nossa presença atlântica. A
Europa, aliás, não pode autobloquear-se ao mundo à sua volta, desde logo à imigração, para mais uma
Europa de onde séculos de emigrantes saíram para procurar vingar por todas as latitudes.
Quando Sacadura Cabral e Gago Coutinho sobrevoam pela primeira vez o Atlântico Sul, num arrojo
tecnológico, sim tecnológico, e estratégico que nem sempre recordamos, o seu destino é o Brasil e o seu
caminho é o mar atlântico. É no Atlântico, no cruzamento entre a Europa, a África, a América do Norte e a
América do Sul, que Portugal se reflete e se supera.
Falta-nos ainda o mar, que nos construiu enquanto Povo e enquanto vontade, que esquecemos nas últimas
décadas. Orientados para a hipervalorização de uma economia de serviços, é preciso sabermos estar à altura
do nosso mar, dos nossos recursos naturais, do nosso saber-fazer e das nossas ambições legítimas, evitando
a degradação das possibilidades que tem marcado os anos pretéritos. A par do nosso mar como elemento
estratégico, está também a nossa língua, um património imenso, com mais de 240 milhões de falantes,
integrados numa comunidade dos países de língua portuguesa, conquista política e diplomática que urge
valorizar e potenciar.
Aplausos do PS.
A lusofonia não é apenas uma circunstância ou um pormenor. Ser português é motivo de orgulho no nosso
passado e no nosso presente; falar português é motivo de confiança acrescida no nosso futuro.
No 25 de Abril e nas primeiras eleições livres, que hoje celebramos, encontramos sempre um reforço de
determinação e de esperança. Determinação e, acima de tudo, confiança são o que precisamos para encarar
os próximos anos. Não das palavras gastas pelo uso, mas do que se descobre dentro delas.
E se «dentro das coisas é que as coisas são», como dizia um dos nossos poetas, dentro de nós está
necessariamente essa vontade de superar as dificuldades e de olhar com confiança o nosso futuro.