I SÉRIE — NÚMERO 79
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E nós, portugueses, feitos da matéria da universalidade que criámos, temos, nos contextos da nossa língua
e diáspora, o lugar adequado para cumprir a nossa parte, sem esquecer a União Europeia. A União Europeia
que tem a sua unidade comprometida no longo arco das políticas fragmentadas dos Estados: o direito criminal
sem uma política verdadeiramente comum; a quase ausência de uma política europeia externa e de
segurança, com o risco de marginalização no cenário internacional; a convergência orçamental sem uma base
mínima de regras sociais comuns, do emprego e da segurança social; e as políticas europeias de
desenvolvimento e imigração, vistas a partir de Lampedusa, Ceuta ou Melilla.
Sr. Presidente, Minhas Senhoras e Meus Senhores, a política é sempre a ultrapassagem dos nossos
limites, transcendência nas coisas que fazemos, é sempre audácia.
Abril deu-nos a liberdade para arregaçar as mangas no muito por fazer. Deu-no-la para a democracia, para
instituirmos entre os seres humanos, e na relação deles com as coisas à sua disposição, a justa proporção
que é a medida da justiça. Uma espécie de ecologia de viver e conviver que tem na política como amor do
mundo o seu ponto de partida.
Aplausos do PSD, de pé, do PS e do CDS-PP.
Toma agora a palavra o Sr. Presidente da República.
O Sr. Presidente da República (Aníbal Cavaco Silva): — Sr.ª Presidente da Assembleia da República, Sr.
Primeiro-Ministro, Srs. Ministros, Sr.as e Srs. Deputados, Digníssimos Convidados, Minhas Senhoras e Meus
Senhores:
Celebramos hoje o 25 de Abril, uma ocasião de festa e alegria, em que Portugal comemora a liberdade, a
democracia e, também, o desenvolvimento e a justiça social.
Há precisamente 40 anos, no dia 25 de Abril de 1975, os portugueses participaram nas primeiras eleições
verdadeiramente livres da nossa História.
Ao escolherem os Deputados à Assembleia Constituinte, naquele que foi o ato eleitoral mais participado da
história da nossa democracia, os portugueses demonstraram estar do lado da liberdade contra todas as
formas de autoritarismo.
Os Deputados à Assembleia da República, que hoje saúdo calorosamente e a quem agradeço a excelência
da cooperação institucional, podem orgulhar-se de ser os sucessores dos constituintes eleitos em 1975.
O 25 de Abril tem vários heróis — e o maior de todos é o povo português.
Devemos celebrar Abril com sentido de futuro, para que as novas gerações saibam que a liberdade e a
democracia são valores que se constroem e renovam todos os dias.
Num tempo em que, em vários lugares do mundo, incluindo na Europa, vemos nascer sinais de intolerância
e ameaças à liberdade, numa época em que alguns se deixam atrair por extremismos radicais, devemos
renovar o nosso compromisso com uma sociedade mais livre e mais justa.
Os portugueses perfilham os valores da democracia e da tolerância, recusam com firmeza o recurso à
violência e à conflitualidade como formas de ação política. Somos um povo de paz e de diálogo. Convivemos
de forma harmoniosa com todos os outros povos.
Ao comemorar o 25 de Abril na Assembleia da República, num ano em que termina a presente Legislatura
e em que outra se iniciará, devemos pensar o futuro de Portugal, fazendo uma reflexão séria e serena sobre
os grandes desafios que o País terá de enfrentar.
Portugal cumpriu um exigente Programa de Assistência Económica e Financeira que, numa altura de
emergência nacional, foi obrigado a estabelecer com as instituições internacionais que nos emprestaram os
fundos indispensáveis ao financiamento do Estado e da economia.
Vivemos uma nova fase da vida nacional: apesar de termos um longo caminho a percorrer, a economia
apresenta já sinais de crescimento e criação de emprego, as contas externas estão equilibradas e perspetiva-
se a saída da situação de défice excessivo.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.