27 DE ABRIL DE 2015
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Mas a liberdade dos portugueses ainda esteve em risco depois dessas primeiras eleições. Poderíamos,
ainda assim e apesar delas, ter caído num novo autoritarismo nesses anos. Aliás, as eleições serviram de
alarme para alguns, ao mostrar que o povo, o soberano, não queria (como nunca haveria de querer) dar o
poder àqueles que na rua reclamavam ser os seus representantes únicos e que nos governos provisórios
ocupavam um peso crescente.
O povo sempre foi muito mais sábio do que algumas vanguardas que pretendiam interpretar. E, quando as
eleições ameaçaram o caminho dos que se achavam detentores de uma legitimidade especial, o País foi
arrastado para um Verão chamado, e bem chamado, de «quente», que por alguns meses fez mesmo temer
que, depois do 25 de Abril de 1974 e depois do de 1975, nunca mais pudéssemos assistir a eleições livres, a
uma economia aberta e à defesa das mais elementares liberdades. Recorde-se, porque a memória às vezes
falha, que era na privação dessas liberdades que vivia à data uma boa parte dos europeus — da cortina de
ferro para lá — e que era esse o caminho que, contra a vontade do povo, alguns queriam para Portugal.
A justa homenagem de hoje aos que fizeram o 25 de Abril deve, por isso, lembrar todos aqueles que, em
vários momentos — e destacamos aqui o 25 de Novembro de 1975 —, se mobilizaram para que a revolução
nunca se transformasse em destruição. Permitam-me, como portuense, um destaque ao General Pires Veloso,
que nos deixou no ano que passou e que tão boa memória deixa.
Sr. Presidente da República, Sr.ª Presidente da Assembleia da República, com o 25 de Abril viram a luz do
dia ou da legalidade os partidos políticos. Assinalámos o 40.º aniversário do CDS, recordando esses primeiros
tempos da sua fundação, tempos esses vividos com uma enorme emoção, mas também debaixo de particular
risco. Muitos foram os episódios em que a violência se atravessou no caminho do Partido, do Centro
Democrático Social. Muitas vezes tiveram militantes e dirigentes que temer pela sua integridade física e até
pela sua vida. Assinalámos alguns desses episódios no quadro das celebrações do nosso aniversário, com
destaque natural para o Congresso do Palácio de Cristal, cercado pela extrema-esquerda com ameaça de vida
para os presentes, e com igual destaque para o primeiro Comício da Juventude Centrista, no Teatro S. Luís,
que terminou com violência, feridos e o saque e incêndio da sede do muito jovem CDS.
Todos o que nesse tempo lutaram pelo direito a exercer política no campo não-socialista — democratas-
cristãos, liberais e conservadores — estão também hoje no nosso pensamento e no nosso coração. E em
todos os momentos em que evocámos o tempo da fundação do nosso partido, mas também o tempo da
fundação da nossa democracia, pois trabalhou para os dois fins com igual brio, em todos esses momentos as
testemunhas da época destacaram um homem que se tornaria uma grande referência para todas as gerações
do CDS. Um homem que debaixo de toda esta agitação, debaixo das ameaças e da violência se manteve
sempre calmo e confiante, contagiando com memorável e por isso relatado entusiamo os que o rodeavam.
Para nós, centristas, os 40 anos das primeiras eleições democráticas são também o momento para recordar o
Engenheiro Adelino Amaro da Costa,…
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
… figura maior de entre todos os que se sentaram na nossa bancada.
Todos os presidentes que serviram a instituição ao longo de 40 anos, todos os militantes que nele se
empenharam e por ele se sacrificaram, todos os eleitores que em nós votaram são, hoje — essa é a uma
característica comum —, património da democracia e têm a marca-de-água da alternância democrática em
Portugal.
A existência de um partido democrático na direita do arco da governabilidade evitou que a liberdade de
escolha em Portugal ficasse refém de um arco constitucional muito marcado ideologicamente naquele tempo e
daquele tempo.
Sr. Presidente da República, Sr.ª Presidente da Assembleia da República, olho para esse tempo através
dos olhos de terceiros. Não sendo ainda nascido à época, dou a democracia como adquirida e a liberdade que
ela traz como comum e normal. Nascido em liberdade não concebo o que é viver num regime em que a
opinião é criminalmente perseguida ou em que o voto não é livre. Sei que assim era, mas parece tão absurdo
e tão distante quanto o Muro de Berlim. Mas não tenho, nem nunca poderia ter, vergonha de ter nascido
depois do 25 de Abril e de ter, também por isso, uma conceção própria do que são os valores pelos quais me