I SÉRIE — NÚMERO 87
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O Sr. Pedro Morais Soares (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr. Secretário de Estado, Sr.as
e Srs. Deputados:
O Partido Comunista Português, ao abrigo das normas constitucionais e regimentais em vigor, vem requerer a
apreciação parlamentar do Decreto-Lei n.º 30/2015, de 12 de fevereiro, que estabelece o regime de delegação
de competências nos domínios de funções sociais nos municípios e entidades intermunicipais.
A iniciativa é legítima mas, sobretudo, importante. E isto porque, se existem matérias em que se percebe
com clareza o que de facto nos distingue, são matérias como a centralidade do cidadão nas políticas públicas,
a confiança no desempenho nos municípios, o reforço da proximidade do Estado, mas também a
descentralização.
O PCP repete, na exposição de motivos, argumentos que lhe são sobejamente reconhecidos. Diz defender
uma autonomia do poder local, mas, afinal, quer um Estado centralizado. Diz acreditar na capacidade dos
municípios e dos agrupamentos de escola na prossecução de matérias essenciais como a educação, mas,
afinal, defende que tudo seja ordenado e planificado a partir da 5 de Outubro. Diz-se também ao lado dos
municípios, defensor da sua liberdade, mas ai daqueles que livremente optaram por acolher estas novas
competências.
Vozes do CDS-PP: — Ora, aí está!
O Sr. Pedro Morais Soares (CDS-PP): — Acusa o Governo de desresponsabilização das suas funções
sociais, diz que, ao delegar estas competências, o Governo pretende desresponsabilizar-se das suas funções.
E, ao mesmo tempo e na mesma frase, é capaz de afirmar que esta descentralização é um desrespeito pelos
municípios já que a descentralização, na sua ótica, tinha de ser total.
Recusa também que o modelo de descentralização avance gradualmente por projetos-piloto, porque, para
o PCP, garantir a igualdade de acesso é impor a igualdade, mesmo quando a realidade é distinta e deve
obrigar, por razões de justiça, a uma adequação permanente.
Vozes do CDS-PP: — É verdade!
O Sr. Pedro Morais Soares (CDS-PP): — Sabemos porquê. Sabemos que não é fácil conjugar liberdade
com interesses corporativistas.
Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: O modelo de descentralização aprovado não é imposto, é um
modelo que avança gradualmente por projetos-piloto. Esse modelo garantiu, por lei, a igualdade de acesso
aos municípios interessados, determinou, como obrigatória, a transferência dos recursos financeiros, humanos
e patrimoniais necessários e suficientes ao exercício das competências pelos municípios e definiu a existência
de um mecanismo de avaliação e acompanhamento participado quer pela administração central quer pela
administração local.
Sr. Presidente, a descentralização de competências que aqui debatemos hoje tem um modelo que é
público, aberto, progressivo, monitorizável e escrutinável, fruto do diálogo e do aprofundamento contínuo, e
dependente da vontade e da autonomia dos municípios, em cooperação com os agrupamentos de escolas,
com os serviços de saúde e com as associações de pais.
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Por isso é que todos estão contra!
O Sr. Pedro Morais Soares (CDS-PP): — Srs. Deputados, a descentralização de competências que aqui
discutimos hoje, depois de mais de uma década de estudos, de análises, de programas e de propostas,
decorre de um compromisso, decorre da realização e decorre, sobretudo, de uma exigência política relevante,
decorre da coerência entre políticas públicas que colocam o cidadão em primeiro lugar.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Eurídice
Pereira.