I SÉRIE — NÚMERO 95
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Ainda ontem ouvimos o Primeiro-Ministro dizer que «quer uma sociedade mais amiga das crianças». Isso,
todos nós queremos! Mas não é com estas políticas e com as políticas dos últimos quatro anos.
É o mesmo Governo que ataca as famílias, reduzindo mínimos sociais, que cortou vários apoios com
consequências diretas na vida das crianças. É que o corte de apoios tem duas dimensões: a dimensão da
folha Excel, que é fria e distante, e uma dimensão concreta, nas pessoas, nas famílias e nas crianças.
Hoje, há menos 95 000 beneficiários de abono de família do que no início do seu mandato. Isto tem
implicações!
Hoje, há 52 000 crianças e jovens a quem foi retirado o rendimento social de inserção. Isto tem
implicações!
Esta é uma maioria que rejeitou a majoração do abono de família para as famílias monoparentais, uma
maioria que rejeitou o aumento moderado do abono de família.
Ouvimos aqui a Sr.ª Deputada Teresa Anjinho colocar na mesma balança — e é dessa frieza que falo — as
questões financeiras e a questão da vida das crianças.
A Sr.ª Teresa Anjinho (CDS-PP): — Não fui eu, foi a Sr.ª Deputada Idália Serrão!
O Sr. Miguel Laranjeiro (PS): — Depois, como é que falam no superior interesse das crianças? Não!
Mais: o Sr. Deputado Amadeu Albergaria disse também, na sua intervenção, que as crianças são o futuro.
Bom, mas antes de serem o futuro, são o presente e foram crianças nos últimos quatro anos.
A Sr.ª Idália Salvador Serrão (PS): — Muito bem! Parece que não!
O Sr. Miguel Laranjeiro (PS): — É desse presente e futuro, naturalmente, que estamos aqui a falar. E o
tempo, infelizmente, não volta para trás. O tempo das crianças em situação de risco retira-lhes oportunidades
de futuro.
Aplausos do PS.
Protestos do PSD.
Um país que se preze não pode aceitar esta situação!
Aquilo que aconteceu nos últimos quatro anos…
O Sr. João Figueiredo (PSD): — Foi pagar dívidas!
O Sr. Miguel Laranjeiro (PS): — … terá consequências humanas, no futuro, pelas medidas que vão sendo
tomadas e que foram tomadas pela vossa maioria e pelo Governo.
O mesmo Governo que quer esta discussão é aquele que está a destruir o modelo da segurança social
existente em Portugal.
Para o Partido Socialista, todas as instituições são importantes, são fundamentais, são necessárias, numa
lógica de complementaridade. Essa é também a história e a matriz do Partido Socialista. Sempre defendemos
a partilha entre Estado, IPSS, misericórdias, mutualidades, mas o Estado não pode desistir do seu papel.
Aquilo a que temos assistido é ao enfraquecimento e, nalguns casos, até mesmo à anulação do papel da
segurança social como responsável último por várias dimensões, incluindo a proteção das crianças,
começando a aligeirar as respostas, como se de outsourcing se tratasse. Há uma função social do Estado, de
defesa dos mais vulneráveis, que tem de ser assegurada.
O Estado está vinculado ao futuro das crianças em risco, dos seus direitos, da sua proteção atempada e
segura. Precisamos de um Estado forte e moderno e não de um Estado demissionário.
Estamos a falar do mesmo Governo que retirou técnicos especializados, capazes, experimentados, da
segurança social, muitos deles afetos às comissões de proteção de crianças e jovens. E há, no País, situações
de estruturas que ficaram sem capacidade de resposta. Estamos a falar de cortes com consequências
dramáticas!