I SÉRIE — NÚMERO 14
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O Sr. Miguel Morgado (PSD): — Um terceiro ponto, que também é importante, diz respeito à questão da
paralisia, dos medos e das hesitações.
Onde denotamos mais esta paralisia nem é naquilo que está plasmado nas conclusões, é, precisamente, no
que não está nas conclusões, e essa ausência é flagrante. Isto é, não há uma única linha sobre a questão da
união económica e monetária, não há uma única linha sobre os progressos na união bancária — que deveria
haver e não está a haver — e não há uma única linha, sobretudo, sobre a reforma da arquitetura institucional do
euro. Ora, essa é uma questão crucial para Portugal.
Por isso, tenho de perguntar ao Sr. Primeiro-Ministro qual é a sua estratégia, porque precisa de uma para
fazer regressar à agenda europeia esta discussão.
Já vimos que vai ser utilizado o pretexto de muita coisa para fazer morrer a discussão, apesar de o Conselho
Europeu ter um roteiro desta reforma, por exemplo, plasmado no roteiro dos cinco presidentes. Não é por falta
de planeamento, de pensamento ou de calendarização mas, simplesmente, por se querer fazer morrer esta
discussão.
Então, tenho de perguntar ao Sr. Primeiro-Ministro qual é a sua estratégia, porque precisa de uma. Se vai
continuar a persistir na estratégia de fazer alianças de ressentimento com o Primeiro-Ministro grego, então,
deixe-me dar-lhe um conselho: desista, porque não vai funcionar.
Na nossa opinião, a União Europeia deve reger-se de acordo com um diálogo entre dois polos de
responsabilidade: a responsabilidade nacional, que é indispensável para o funcionamento harmonioso da União
Europeia e que deve ser defendida em nome da democracia nacional e da nossa própria nacionalidade como
povo, em diálogo com uma responsabilidade comum, isto é, uma responsabilidade europeia em nome dos
problemas que são comuns.
Precisamos, então, de regras comuns, certamente, mas de regras que sejam realmente comuns, isto é, que
sejam transparentes, inteligíveis e iguais para todos, e essas ainda não as temos.
Precisamos também — claro! — de instituições comuns, não que sejam remendos inconsequentes mas
também não orientadas por projetos políticos delirantes, como a construção de um superestado federal, como
algumas vanguardas esclarecidas ainda persistem em defender.
É nesse âmbito que o PSD continua a defender uma estrutura institucional com capacidade orçamental para
dar resposta, de uma maneira automática, a choques económicos e a desequilíbrios que ocorram em partes da
zona euro que não funcione, então, como um instrumento de subsidiação permanente de uns países por outros
— isso é, sim, a morte desta discussão e, a prazo, a morte da própria zona euro.
Há 20 anos, tivemos uma oportunidade para lançar as bases sólidas de instituições comuns que fossem
duradouras e eficazes. Perdemos essa oportunidade histórica.
Neste período de relativa acalmia que vivemos agora na Europa, onde ainda há muitos problemas, sobretudo
no sul da Europa, esta é a segunda oportunidade que a história nos está a dar. Temos de aproveitá-la, porque
corremos o risco de não vir a ter uma terceira oportunidade.
Portanto, é obrigação grave do Governo fazer regressar esta discussão à agenda e participar nela. E não
com palavras vagas e vãs, ou, muito menos, com queixumes aqui, no Parlamento português.
Deve, então — e este é o meu conselho para o Sr. Primeiro-Ministro —, participar nesta discussão e fazer
regressar esta discussão à agenda, numa conversação adulta e responsável. É dessas conversações que
devem viver os parceiros que partilham a mesma Casa.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, pelo Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda, a Sr.ª Deputada Catarina
Martins.
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro: Em debates anteriores, em que
discutimos questões europeias, manifestei toda a solidariedade do Bloco de Esquerda para com o trabalho que
o Governo estava a fazer para ultrapassar os obstáculos europeus à recapitalização pública da Caixa. Reitero
essa solidariedade e a satisfação do Bloco de Esquerda com a recapitalização pública da Caixa, porque a Caixa
só pode ser integralmente pública.