I SÉRIE — NÚMERO 55
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Mas, na verdade, ainda que possa não parecer, até porque o PSD nem sequer uma referência fez às
dificuldades dos portugueses no acesso aos serviços públicos, o tema é mesmo sobre o acesso dos portugueses
aos serviços públicos. E este debate vai, de facto, permitir-nos fazer uma discussão em torno da necessidade
de reforçar a qualidade dos serviços públicos, mas também poderá servir para fazermos uma avaliação das
consequências das políticas e das opções do Governo PSD/CDS, que ainda hoje se fazem sentir ao nível do
acesso aos serviços públicos, porque, hoje, quando falamos do acesso aos serviços públicos é necessário ter
presente que o PSD liderou o Governo que mais fragilizou os serviços públicos. Convém não perder de vista
que o PSD liderou o Governo que ficará para a história como o Governo que não conseguiu, sequer, esconder
a sua aversão a tudo o que era público. E, por fim, é útil recordar que o PSD liderou um Governo que olhava
com desdém para as funções sociais do Estado. Eu não estou, certamente, a dar nenhuma novidade, nem é
esse o meu propósito, estou apenas a relembrar alguns elementos cuja referência nos parece oportuna quando
falamos do acesso aos serviços públicos.
É verdade que os serviços públicos estão muito fragilizados com falta de pessoas e com falta de meios
técnicos, mas também é verdade que a situação foi profundamente agravada com a passagem do Governo
PSD/CDS pelos destinos do País.
A responsabilidade do Governo anterior na situação que está criada é muita, sobretudo se tivermos em conta
que, entre 2011 e 2015, o Governo PSD/CDS destruiu cerca de 78 000 postos de trabalho na Administração
Pública e é também por esse motivo que os serviços públicos estão hoje como estão.
Ora, face a este quadro, Sr. Ministro, impõem-se medidas que garantam a continuidade da prestação de
serviços públicos essenciais para as populações e que garantam a efetividade do princípio da universalidade
destes serviços.
Mas, Sr. Ministro, quando falamos de serviços públicos, também falamos de descentralização e, a nosso ver,
qualquer descentralização deve ter em vista a defesa e a valorização da autonomia do poder local sempre na
perspetiva de melhorar a resposta às necessidades das populações e de promover a qualidade dos serviços
públicos prestados aos cidadãos. Mas a descentralização também não pode ser encarada como uma forma de
desresponsabilizar o Estado das suas funções, nem pode, sequer, ocorrer porque o Estado não quer ou não
consegue dar resposta ao que pretende descentralizar, e o que nos parece é que a entrega da gestão das áreas
protegidas às autarquias não ocorre porque será melhor para a preservação das áreas protegidas mas porque
os vários governos que nos têm governado não têm tido vontade de olhar para as áreas protegidas com olhos
de ver. E, portanto, faz-se o mais fácil: transfere-se para a gestão das autarquias. E, neste caso, até com uma
agravante, porque estamos a falar de responsabilidades que as autarquias não podem, nem devem, assumir
sob o risco de se perder a natureza unificadora, a visão global nacional que deve estar subjacente às políticas
para as áreas protegidas.
Ora, isto em nada contradiz o que Os Verdes defendem, relativamente à necessidade de envolver as
autarquias, as associações e até as populações nas decisões sobre a gestão das áreas protegidas. Não, todos
devem ser envolvidos nessa gestão, mas daí a transferir a gestão para as autarquias vai uma distância muito
grande e, na nossa perspetiva, não vai ser bom para a preservação das áreas protegidas, exatamente porque
corremos o risco de perder essa visão global, essa ideia uniforme que deve presidir à gestão das áreas
protegidas.
Portanto, Sr. Ministro, a pergunta que lhe deixo é a seguinte: não lhe parece que esta pretensão, indo para
diante, faz com que estejamos a perder a visão unificadora, a visão global e nacional que deve estar presente
nas políticas para as áreas protegidas?
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para terminar este segundo grupo de pedidos de esclarecimento,
tem a palavra a Sr.ª Deputada Berta Cabral.
A Sr.ª Berta Cabral (PSD): — Sr. Presidente, o Sr. Ministro trouxe-nos aqui, mais uma vez, uma declaração
de intenções sobre a descentralização de competências e a verdade é que ainda aguardamos a entrada da
proposta de descentralização, da lei-quadro, segundo diz o Sr. Ministro, neste Parlamento.