9 DE MARÇI DE 2017
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O Sr. Primeiro-Ministro trouxe aqui a questão do crescimento económico sustentável do País. É uma questão
que nos é cara e que temos, nestes últimos anos de regressão e estagnação económica, bem evidente desde
a entrada no euro, colocado no centro da nossa intervenção, em contraponto com as orientações que têm sido
dominantes no País.
Sim, precisamos de garantir um crescimento económico, mas ele não se garante de forma sustentada com
opções políticas que fazem da redução do défice a questão primeira da ação governativa, não se faz à custa da
redução do investimento público, do investimento necessário quer para o desenvolvimento de setores produtivos
nacionais, quer para assegurar as infraestruturas necessárias ao desenvolvimento do País, não se garante com
a desvalorização da força do trabalho como única variável do ajustamento macroeconómico. O crescimento
sustentado precisa da elevação das condições de vida do povo como alavanca desse crescimento.
Os avanços verificados nesta nova fase da vida política nacional foram a prova provada da importância do
trabalho e dos trabalhadores.
Vozes do PCP: — Muito bem!
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Não se garante persistindo nas privatizações, na liberalização de
mercados públicos, na desregulamentação de mercados onde dominam as PME (pequenas e médias empresas)
mantendo o papel dominante do setor financeiro tal como está. Não caminharemos para o crescimento
sustentado se não se fizer a rutura com estes eixos estratégicos, o que significa fazer rutura com o poder do
capital monopolista.
A proposta do PCP é pelo desenvolvimento, de que uma das dimensões é o crescimento sustentado. Isto
significa, do nosso ponto de vista, a promoção da produção nacional e dos setores produtivos, o apoio ao setor
cooperativo e às micro, pequenas e médias empresas, com medidas de apoio financeiro ao investimento e de
apoio ao crédito, de redução dos preços dos fatores de produção, nomeadamente na energia e nos
combustíveis. Estamos a pensar nos agricultores, estamos a pensar nos pescadores, que aguardam com
expectativa a concretização de algumas medidas que estão perspetivadas.
Sr. Primeiro-Ministro, isto significa também a necessidade da valorização dos salários, do combate à
precariedade, da reposição de direitos laborais por alteração das leis de trabalho, a defesa do desenvolvimento
qualitativo dos sistemas de saúde, do ensino e da segurança social.
Estas são questões importantes para um crescimento económico sustentável, sobre os quais é importante
também ouvir o Governo.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr. Deputado Jerónimo de Sousa, em primeiro lugar, associamo-
nos, obviamente, à saudação que fez às mulheres portuguesas e à preocupação que manifestou no sentido da
igualdade.
Há 40 anos a reforma do Código Civil deu um passo gigantesco na mudança da nossa vida em sociedade.
Outras evoluções tivemos posteriormente, desde logo, com a Lei da Paridade. Alargámos o conceito de
igualdade a outras áreas da vida, mas persiste a desigualdade de género entre homem e mulher e, em particular,
no mercado de trabalho.
Por isso, a paridade no poder de decisão e a igualdade salarial são questões centrais, a par das medidas
necessárias à conciliação quer para os homens, quer para as mulheres entre a vida familiar e a vida profissional.
Quando refiro que é para o homem e para a mulher, quero dizer que não alteraremos profundamente os
papéis de cada um na família se essas medidas de conciliação não forem dirigidas necessariamente a ambos
os géneros, porque só assim poderemos ter uma alteração e ir construindo uma nova cultura de relações dentro
da família.
Sr. Deputado, creio que é hoje consensual na sociedade portuguesa, e não só, que há um problema de
relacionamento entre a moeda única e a convergência, hoje isso é muito manifesto. Mesmo para aqueles que,
como eu, consideram que, no processo de construção europeia, a defesa da moeda única é essencial, não