I SÉRIE — NÚMERO 72
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O Sr. Nuno Serra (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: «Em 2016, é expectável uma variação
negativa do valor acrescentado bruto (VAB) do ramo agrícola, quer em termos nominais — -7,7% —, quer em
termos de volume — -9,7% —, interrompendo-se, deste modo, a tendência de crescimento em volume
observada desde 2011».
Esta afirmação não é minha, não é do PSD. É, Srs. Deputados, do destaque do Instituto Nacional de
Estatística (INE) na primeira estimativa que fez sobre as contas económicas da agricultura para 2016.
A dinâmica económica que o setor agrícola ganhou nos últimos anos, em particular nos anos de crise, em
termos de investimento privado e de crescimento das exportações agroalimentares, está em risco, e está em
risco perante estas políticas desconexas e preconceituosas do atual Governo.
Ao estar refém da extrema-esquerda, consequência do acordo político em que utilizou a agricultura como
moeda de troca para uma sustentação governativa, este Governo aceita e apresenta propostas impensáveis
para um mundo rural dinâmico, moderno, atrativo e sustentável.
O retrocesso na lei dos baldios, imposto pelo PCP; a cedência à chantagem do Partido Ecologista «Os
Verdes» e do Bloco de Esquerda sobre a plantação de eucaliptos, a imposição do PCP sobre a reavaliação de
prédios rústicos com mais de 50 hectares, cujo resultado será o aumento de impostos, são bons exemplos desse
preconceito retrógrado e bafiento.
O Governo aceita estas políticas, que, longe do saber da ciência e da inovação, conferem sinais errados aos
produtores e aos investidores, condicionando a rentabilidade da atividade agrícola, o rendimento dos produtores
e o crescimento da produção nacional.
Srs. Deputados, como é que com estas medidas se pode defender a produção nacional, se podem defender
os agricultores portugueses?
Como é que, limitando o crescimento do setor agrícola, se pretende equilibrar a balança agroalimentar em
valor já em 2020 como é objetivo do atual Governo? Como, Srs. Deputados?!
Srs. Deputados, o Governo perdeu o rumo. Anuncia, com bastante frequência, o que já existe, promete sem
consequência, altera o que está bem sem fundamento e com base em critérios pessoais.
Enquanto no passado se reconhecia o mérito dos dirigentes do ministério, hoje descartam-se, exoneram-se
e demitem-se dirigentes com justificações despudoradas e contraditórias. Aliás, como aconteceu recentemente
com o Presidente do IFAP (Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas) e toda a sua equipa, a quem o
Governo invocou «menor performance» e ser necessário «uma gestão mais dinâmica».
Ironicamente, a equipa foi afastada um dia antes de ser público que o IFAP ficou em primeiro lugar no ranking
europeu de execução financeira do FEAGA (Fundo Europeu Agrícola de Garantia), isto é, o primeiro pilar da
PAC.
Afinal, qual é a gestão dinâmica que este Governo pretende fazer?! É continuar a reter os fundos aos
agricultores, como tem feito no Programa de Desenvolvimento Rural?! É continuar a excluir candidaturas a esse
mesmo Programa, porque muda as regras de valorização a meio do processo, como tem acontecido por este
País fora e nos diversos setores agrícolas?! É continuando a fraca execução no investimento, que não passou,
no ano de 2016, dos 20% e que inibiu os empresários agrícolas de serem mais evoluídos e competitivos?! É
continuando a não apostar nos jovens agricultores, quando só abriu as candidaturas no final do ano passado e
que significou que a execução dos apoios a estes jovens apenas tenha ficado nos 12%, invertendo aquilo que
são os novos desafios da PAC, onde um dos objetivos é a renovação geracional?! É ter desprezado a aposta
nas organizações de produtores, retirando os incentivos a que os produtores se associem e possam ser mais
competitivos no mercado global, exatamente ao contrário do que se passa na restante Europa?! É somente vir
anunciar «aos sete ventos» um plano de agricultura biológica e depois não criar os instrumentos de políticas
públicas essenciais para cumprir esse objetivo?! É querer fazer uma espécie de reforma da floresta onde se
esquece dos proprietários, do valor do setor e do ordenamento do território integrado?! É não conseguir sequer
o consenso do setor relativamente a essa pseudorreforma, mas também não conseguir dos partidos que
suportam esse Governo, como é o caso do Bloco de Esquerda, que já apresentou propostas alternativas a essa
reforma?! É querer fazer uma reforma da floresta mas num ano e meio de governação apenas assinar 485
contratos de investimento florestal dos 6704 que deram entrada?! É não dar dinheiro para investir na floresta
mas querer que todos acreditem na bondade da sua reforma?!É ter parado, durante um ano e meio, o
investimento no Plano Nacional de Regadios, não avançando com os investimentos já aprovados e continuar a