I SÉRIE — NÚMERO 72
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afirmado, como o Partido Socialista e o Governo têm dito. É exatamente ao contrário; este é um mundo em que
se vai agravar ainda mais a situação dos trabalhadores e do povo português.
E se a Sr.ª Deputada quiser que lhe dê exemplos mais concretos, recordo-lhe aquilo que existe relativamente
ao Acordo, o que está, de facto, plasmado no Acordo, nomeadamente no capítulo 23, relativamente às leis
laborais. Não há, de facto, ali nenhuma excecionalidade para que se possa não nivelar por baixo, que é isso que
o Acordo prevê, mas, precisamente, aumentar esse nível de proteção.
Recordo-lhe, ainda, a não ratificação, por parte do Estado canadiano, das convenções da OIT. São várias as
convenções da OIT que não estão ratificadas pelo Estado canadiano e que têm enormes repercussões na vida
dos trabalhadores, nomeadamente dos trabalhadores portugueses.
Relativamente à questão do «sejamos bem-vindos ao debate», gostaria de lhe dizer o que teria acontecido
caso o projeto de resolução que o PCP apresentou na semana passada, que aqui foi discutido e votado, tivesse
tido a aprovação pelo menos do Partido Socialista.
Se o projeto de resolução que apresentámos tivesse sido aprovado, de facto rejeitava a entrada provisória,
que, Sr. Deputado José Luís Ferreira, foi um mecanismo que a União Europeia e a Comissão Europeia
encontraram de prosseguir não só o processo de chantagem, como muito bem referiu, como também a garantia
de que o Acordo entrava em vigor sem a ratificação, evitando o que aconteceu na Bélgica, designadamente no
Parlamento da Valónia, em que foi rejeitado este Acordo, sendo no entanto de frisar a chantagem de que aquele
povo e aquele Parlamento foram objeto no sentido de aceitarem esta imposição, de aceitarem mais este
condicionamento da União Europeia.
Portanto, com a aprovação do nosso projeto de resolução evitar-se-ia que houvesse um efeito de
contaminação, um efeito dominó, no sentido de que se um parlamento rejeitasse, os outros parlamentos
rejeitassem também e que o Acordo fosse metido na gaveta…
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Carla Cruz (PCP): — Termino já, Sr. Presidente.
O PCP bater-se-á, pois, pela rejeição deste Acordo, pelos seus conteúdos, pela sua natureza, pelos
propósitos que ele encerra e, sobretudo, pelos riscos que ele acarreta para Portugal e para os trabalhadores
portugueses.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Segue-se um segundo conjunto de três pedidos de
esclarecimento, porque, entretanto, houve mais uma inscrição para o efeito.
Tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Mota Soares.
O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Carla Cruz, este é, felizmente, mais
um debate que estamos a ter a ter aqui sobre a política comercial da União Europeia, neste caso sobre o CETA
— já falámos também de um conjunto de outros acordos comerciais.
Digo «felizmente», porque isso permite-nos sempre debater, trocar argumentos, mesmo que sejam
diferentes, mas, infelizmente, os vários debates — se não me falha a memória, penso que este será já o sexto
debate sobre este tema em Plenário — não permitiram ainda uma coisa, que é esclarecer o Partido Comunista
Português sobre um conjunto de aspetos que entendemos ser pedagogicamente importante reiterar.
Diz a Sr.ª Deputada que este Acordo vai implicar um conjunto de alterações a nível das políticas públicas, na
área da saúde, na área da educação… Não Sr.ª Deputada! E não sou eu que o digo, foi exatamente uma Sr.ª
Secretária de Estado e o Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros do Governo que o Partido Comunista Português
apoia, que já cá vieram várias vezes explicar isso.
Mesmo em matérias muito sensíveis e muito importantes, que têm a ver, por exemplo, com a mobilidade de
trabalhadores, que têm a ver com um conjunto de regras internacionais sobre os trabalhadores, como
convenções da OIT, sabemos que o Canadá tem vindo, felizmente, a subscrever muitos desses mesmos
acordos e muitas dessas convenções que a OIT tem vindo a lançar e que Portugal já ratificou.