6 DE ABRIL DE 2017
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Mas, Sr.ª Deputada, confesso que, depois de ouvir a sua intervenção, só tenho uma pergunta para lhe fazer.
Já percebemos que o Partido Comunista é completamente contra a agenda comercial da União Europeia – aliás,
que eu saiba, o Partido Comunista nunca foi a favor de um acordo de comércio internacional. Mas, Sr.ª
Deputada, quem está neste momento a trazer esse Acordo ao Parlamento português é o Governo que a Sr.ª
Deputada apoia, o Governo que a Sr.ª Deputada suporta com o seu voto aqui, neste Parlamento.
Por isso, a pergunta que lhe faço Sr.ª Deputada é a seguinte: até onde é que vai a vossa contestação ao
CETA? É que como muitas vezes o PCP diz, se quiserem «levar a luta» até ao voto, então, se calhar, a Sr.ª
Deputada podia ameaçar o Governo que suporta, dizendo-lhe que se passar essa linha do CETA o Partido
Comunista retira o apoio ao Governo.
E, pois, essa a pergunta muita concreta que lhe faço Sr.ª Deputada. Ou, afinal, como alguém aqui dizia, os
senhores vão fazer tudo para percebermos que, no fim, o que estão a fazer é a fazer de conta?
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem a palavra, para pedir esclarecimentos, a Sr.ª Deputada
Isabel Pires.
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Carla Cruz, agradeço a oportunidade para
voltarmos a debater este assunto.
Gostaria de fazer um pequeno exercício de imaginação que, prometo, não vai ser muto difícil. Imaginemos
que, há uns anos, enquanto ainda era possível debater seriamente este assunto, antes da ratificação por parte
do Parlamento Europeu, se tivéssemos reunido, se o Parlamento português e o Governo da altura tivessem
ouvido as organizações, iriamos perceber que a Comissão Nacional de Proteção de Dados está contra o Acordo,
a Ordem dos Médicos está contra o Acordo, a DECO está contra o Acordo, a Quercus está contra o Acordo, o
Sindicato dos Magistrados do Ministério Público está contra o Acordo. Teríamos visto até que a Associação
Europeia de Juízes está contra o Acordo. E não teríamos o PS, o PSD e o CDS a não quererem continuar a não
debater o conteúdo do Acordo. É isso que continua, neste momento, a acontecer.
O Bloco de Esquerda realizou, desde há uns meses, dezenas de reuniões com várias organizações e a
primeira coisa que disseram foi que nunca antes tinham sido ouvidas por nenhum Governo sobre o assunto, o
que demonstra, desde logo, o que temos vindo a dizer sobre o tipo de negociação e para quem é que esta
negociação foi feita.
Em segundo lugar, dos relatórios existentes, percebemos que a esmagadora maioria das reuniões da
Comissão Europeia foram com multinacionais e não com este tipo de organizações.
Portanto, voltamos a reiterar a necessidade de ler o conteúdo do Acordo, porque do que estamos a falar é
de um Acordo que vai ter consequências práticas na vida diária dos nossos cidadãos, aqui, em Portugal, mas
também em toda a União Europeia.
Veja-se, em primeiro lugar, a estrutura do Acordo: no campo laboral, prevê alterações para alcançar o
objetivo, que é o lucro; no ambiente, não é vinculativo e não permite a discriminação positiva de tecnologias, o
que implica maior poluição.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Para terminar, Sr. Presidente, coloco a seguinte questão: no meio de todo este
conteúdo, que alguns analisam e outros querem continuar a não analisar e a não querer discutir, de facto, a
entrada em vigor provisória da grande maioria do Acordo significa mais uma pressão e mais uma chantagem
por parte da Comissão Europeia relativamente aos povos.
Isto é, de facto, bem revelador do espírito com que se fez este Acordo, cujos propósitos e objetivos
continuamos a rejeitar.
Aplausos do BE.