6 DE ABRIL DE 2017
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histórica, educacional e pedagógica à qual se devem subordinar quaisquer utilizações, atividades e
intervenções.
A recuperação, valorização e requalificação da Fortaleza de Peniche deve alicerçar-se na sua afirmação
como testemunho vivo não só do que foi o flagelo da repressão nas prisões do regime fascista e, igualmente,
da luta pela liberdade e pela democracia, bem como da Revolução de Abril.
O dever do Estado não é colocar o património nacional ao serviço de alguns, dos mais privilegiados, é
preservá-lo e colocá-lo ao serviço das populações, é democratizá-lo.
A saída para a desresponsabilização dos sucessivos governos na salvaguarda do património cultural, que
resultou na degradação de tantos e tantos monumentos, não pode passar pela mercantilização ou pela
concessão. Pelo contrário, passa pelo investimento e valorização, em respeito pela Constituição da República
Portuguesa, com financiamento público.
Tal como bem escreveu Borges Coelho, ex-preso político: «As sociedades que não preservam a memória
não acautelam o futuro».
É por isso que defendemos que o Forte de Peniche tem de ser recuperado, requalificado e valorizado
enquanto património nacional, tendo como parte integrante e fundamental o núcleo museológico dedicado à
denúncia da repressão fascista, à resistência antifascista e à luta pela liberdade e pela democracia.
Aplausos do PCP e de Os Verdes.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João
Almeida.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Em nome do Grupo
Parlamentar do CDS, quero saudar os peticionários e dizer que o Grupo Parlamentar do CDS compreende bem
qual foi o impulso que os levou a subscreverem esta petição. E melhor seria que não tivessem de o fazer porque
era sinal de que a solução para esta questão era clara e que não havia avanços, recuos, hesitações e falta de
compreensão por quem, no Governo, tem a responsabilidade de conduzir o dossier.
Entendemos que é muito importante preservar a memória, principalmente quando essa memória tem a ver
com a liberdade de expressão, com a limitação histórica dessa liberdade e com o facto de isso ter acontecido
em território nacional. Tudo o que seja a defesa da memória daqueles que resistiram contra qualquer ditadura,
mas, especialmente, contra a ditadura do Estado Novo em Portugal, é, para nós, razão suficiente para
preocupação e para valorização. Tivesse idêntica preocupação quem fala agora sobre estas limitações de
liberdade e ignora outras limitações de liberdade noutros momentos e noutras questões. Não é o nosso caso.
O Sr. Jorge Paulo Oliveira (PSD): — Muito bem!
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Por isso, entendemos que a solução deve permitir essa
concretização. Não temos a arrogância de achar que só nós é que sabemos como é que isso se faz. Não temos
até a arrogância de achar que sabemos melhor do que o executivo municipal de Peniche, que é insuspeito, não
só por ser de Peniche como até pela força política maioritária desse executivo camarário.
O Sr. Pedro Pimpão (PSD): — Bem lembrado!
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Se foi a Câmara Municipal de Peniche que, por unanimidade,
consagrou esta como a melhor solução, devemos perceber por que é que assim aconteceu. Mas, melhor,
deveriam perceber os Srs. Deputados da CDU, porque, afinal de contas, podem perguntar aos seus camaradas
por que é que os camaradas de Peniche queriam que fosse esta a solução.
Também deveriam perguntar ao Governo por que é que pôs a Fortaleza de Peniche num programa, que,
dizia-se, era para manter a memória e preservar património, e depois tirou-a. De duas, uma: ou o programa,
afinal, não é para defender memória e preservar património ou o que querem fazer à Fortaleza de Peniche é
outra coisa que não isso.