2 DE JUNHO DE 2017
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Mas, Sr.as e Srs. Deputados, Os Verdes já têm dito muitas vezes aqui, na Assembleia da República, que os
votos não valem por si só, valem por aquilo que dizem, pela forma como o dizem e, muitas vezes, por aquilo
que insinuam no seu texto.
Os Verdes não acompanharão o voto do PS — votaremos mesmo contra —, na medida em que ignora
completamente essa oposição à não inclusão da questão da central nuclear de Almaraz na Cimeira Ibérica e
procura florear a coisa relativamente às matérias energéticas, como se nada se tivesse passado.
O voto do CDS parece-nos adequado na forma como coloca as coisas.
O voto do PSD, Sr. Deputado Manuel Frexes, causa-nos algum embaraço na votação, devo dizer.
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Ai causa?!
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — A pretexto de uma matéria justíssima, que é a questão do
encerramento da central nuclear de Almaraz, o PSD entra numa forma de dizer as coisas que dá a sensação de
que neste momento não existe, até, um regular funcionamento das instituições. Os Srs. Deputados devem ter
em conta que, se o Governo não tem em conta uma recomendação da Assembleia da República, deve sofrer a
consequência política por esse facto.
O Sr. Presidente: — Peço-lhe para concluir, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Termino, Sr. Presidente.
Mas atenção, Sr.as e Srs. Deputados, porque estamos a falar de dois órgãos de soberania completamente
diferentes. A responsabilidade política há de recair sobre o Governo e, certamente, Os Verdes serão uma voz
nessa responsabilização do Governo.
Aplausos de Os Verdes e do Deputado do PCP João Oliveira.
O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, vamos passar à votação destes três votos que foram objeto de
discussão.
Começamos por votar o voto n.º 319/XIII (2.ª) — De protesto pela conduta omissiva do Governo na cimeira
ibérica quanto ao encerramento da central nuclear de Almaraz (PSD).
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PSD, do BE, do CDS-PP, de Os Verdes e do PAN
e votos contra do PS e do PCP.
É o seguinte:
Decorreu no passado fim de semana, em Vila Real, a Cimeira Ibérica onde os Governos de Portugal e de
Espanha tiveram a oportunidade de discutir no plano bilateral temas considerados importantes para o
relacionamento político, económico e social entre os dois países.
Incompreensivelmente, a dimensão ambiental ficou de fora da agenda deste encontro por ser incómodo falar
da central nuclear de Almaraz.
Esta era a oportunidade de o Governo mostrar aos portugueses que a defesa dos interesses nacionais estava
em primeiro lugar.
Esta era a oportunidade de o Governo cumprir as recomendações aprovadas pelo Parlamento, desde logo a
Resolução n.º 107/2016 que insta o Governo a tomar as necessárias diligências junto do Governo de Espanha
e da União Europeia com vista a promover o encerramento da central de Almaraz em 2020, bem como a
Resolução n.º 76/2017 que recomenda ao Executivo a inclusão na agenda da Cimeira Luso-Espanhola o tema
da central nuclear de Almaraz e a necessidade do seu encerramento.
O Governo não o fez. No final da Cimeira Ibérica, o Sr. Primeiro-Ministro, sobre o encerramento da central
nuclear, declarou perentoriamente à comunicação social: «Não íamos hoje tratar daquilo que temos tratado
várias vezes no passado e que, relativamente às questões que se colocaram, ficaram resolvidas e bem
resolvidas».