I SÉRIE — NÚMERO 69
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O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Peço-lhe para concluir, Sr. Deputado.
O Sr. João Azevedo Castro (PS): — Concluo já, Sr. Presidente.
Falamos de um assunto de mar, falamos da economia do mar, falamos da concretização do mar português.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tem a palavra, também para uma intervenção, o Sr. Deputado Cristóvão
Norte.
O Sr. Cristóvão Norte (PSD): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: É sabido
que o PSD entende o desenvolvimento da economia do mar como um instrumento decisivo para realizar um
País mais comprometido com o aproveitamento dos recursos endógenos, com a criação de emprego qualificado
e, desse modo, com melhores bases para assegurar a sua autonomia.
Esse objetivo é hoje particularmente mais relevante, na medida em que se avista que, talvez nos próximos
dois ou três anos, Portugal venha a beneficiar, por força do aumento da plataforma continental, de um território
sob a sua jurisdição na ordem dos 4 milhões de quilómetros quadrados, o que corresponde a 90% de território
imerso.
Portanto, Portugal, inevitavelmente, encontrará aí a sua janela de liberdade, tal como se verificou no passado,
o que, obviamente, é um imperativo que deve reger as políticas públicas, na medida em que convoca aspetos
de natureza económica mas alarga-se a dimensões geoestratégicas, sociais e identitárias duradouras e de
larguíssimo alcance. É desse ponto de vista que apreciamos todas as matérias atinentes ao mar.
É por isso indiscutível que é importante ter uma política marítima forte e, para o realizar, um país não deve
dispensar, em circunstância alguma, uma marinha mercante, seja pelo que a mesma significa do ponto de vista
dos setores conexos, como a construção e a reparação naval, os portos, as oportunidades de emprego e até,
em alguma medida, questões de segurança nacional, seja porque, no quadro do crescimento exponencial do
tráfego marítimo e com a intensidade das trocas comerciais, o País tem de saber criar condições para ser
liderante, num domínio em que tem óbvias vantagens comparativas e que se deve constituir como uma das mais
relevantes forças motrizes da economia.
Deve ser dito, e quero dizê-lo de forma absolutamente incontestável, que é incompreensível, quase um
absurdo, que o País, durante décadas, tenha assistido impávido, sem reação, à perda da marinha mercante e
jamais tenha sido capaz de se mobilizar para tentar contrariar essa tendência, quando a marinha mercante se
deve constituir como um pilar determinante da economia.
Nesse sentido, a proposta que hoje discutimos merece a nossa consideração e merece ser ponderada na
especialidade,…
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Mas qual especialidade?!
O Sr. Cristóvão Norte (PSD): — … não sem, todavia, deixar de fazer algumas observações.
Por um lado, não deixa de ser paradoxal que um Governo, cuja ação tem sido a de aumentar impostos para
as empresas, pretenda, neste caso, diminui-los, sendo que o desejável seria um desagravamento fiscal geral de
IRC, que oferecesse previsibilidade e segurança, de modo a atrair investimento, investimento, esse, que o País
não tem pela mão do Governo, que o Governo corta e que é preciso mobilizar, seja ele estrangeiro ou não,
porque não temos muitas condições para o atrair.
Por outro lado, esta proposta deveria ser acompanhada de outras matérias,…
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Peço-lhe o favor de concluir, Sr. Deputado.
O Sr. Cristóvão Norte (PSD): — … e nós já solicitámos ao Governo, abundantes vezes, que o fizesse,
porque as questões da tonnage tax e do quadro fiscal e contributivo não são as únicas questões determinantes
para regenerar a marinha mercante. Impõe-se que outras questões aqui sejam trazidas, designadamente no
âmbito da formação dos marítimos, da ratificação dos tratados internacionais e dos guardas armados a bordo.