I SÉRIE — NÚMERO 82
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Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr. Deputado Fernando Rocha Andrade, a negociação do
próximo quadro financeiro plurianual, a par da reforma da união económica e monetária, são duas questões
centrais para Portugal no quadro da União Europeia. E o quadro financeiro plurianual é mesmo a questão central
para o desenvolvimento do País nos próximos anos, tendo em conta a elevada dependência que tem, ao nível
da sua capacidade de investimento, dos fundos estruturais.
O que podemos dizer sobre o que é conhecido da proposta da Comissão é que é um mau ponto de partida.
Todos sabíamos que o desenho do próximo quadro financeiro plurianual seria difícil: por um lado, a saída do
Reino Unido privava a União Europeia de um importante contribuinte; por outro lado, sabíamos que havia novas
prioridades assumidas pela União Europeia e que careciam de financiamentos. O desafio da gestão dos fluxos
migratórios e da integração dos migrantes, o reforço das medidas de combate ao terrorismo e a necessidade de
investirmos na inovação e no conhecimento como condição essencial para gerirmos o futuro da sociedade digital
eram novas dimensões que exigiam necessariamente a alocação de novas fontes de financiamento.
Perante isto, era necessário haver maior ambição e, por isso, dissemos, desde o princípio, que para dar
resposta a estas novas realidades não podiam servir como válvula de ajustamento nem a política de coesão
nem a política agrícola comum.
A política agrícola comum e a política de coesão fazem parte da identidade da União Europeia e ambas
provaram bem. E o pior que uma instituição pode fazer é abandonar o que já provou bem para vir financiar o
que de novo deseja fazer.
Ora, nós desejamos que a União Europeia faça o que tem a fazer de novo, mas que não sacrifique nada do
que tem feito bem até agora. E isso exige duas coisas: por um lado, um aumento das contribuições nacionais,
e daí Portugal ter assumido prontamente a disponibilidade para aumentar a sua contribuição nacional para a
União Europeia, sendo que o Comissário Oettinger propôs inicialmente um aumento de 1,2% e o Parlamento
Europeu propôs um aumento de 1,3%, mas todos devíamos assumir o compromisso de contribuir mais para
termos uma melhor União Europeia; por outro lado, o reforço dos recursos próprios da União através das
tributações de um conjunto de atividades que são dificilmente tributáveis a nível nacional. As plataformas digitais
são o melhor exemplo disso, mas, seguramente, as transações financeiras também são um exemplo que não
devemos nem podemos ignorar, assim como a tributação das atividades particularmente poluentes e que são
contrárias ao objetivo mobilizador que a Europa assumiu, de descarbonização do conjunto da sociedade e de
cumprimento dos objetivos do Acordo de Paris.
Ora, o que verificamos na proposta da Comissão é que, em vez de apostar num reforço do orçamento
comunitário, propõe manter tudo como estava, com a diferença de reforçar, e bem, o investimento em ciência e
de criar um mecanismo interessante de apoio às reformas — Portugal, aliás, propôs e tem defendido esse
mecanismo —, de modo a que se resolvam problemas estruturais e se favoreça a convergência dos Estados-
membros, o que implica um corte muito significativo na política agrícola comum e um corte ainda mais
significativo na política de coesão.
Não são conhecidos ainda os quadros nacionais. Sabemos que a proposta global aponta para um corte de
5% na despesa com a política agrícola e de 10% na despesa com a política de coesão. Seja qual for a situação
— e há quem tenha suspeitas de que os cortes relativamente a Portugal serão superiores aos da média —,
consideramos esta proposta um mau ponto de partida, pelo que não a poderemos aceitar.
Portanto, a posição com que partimos é, como sempre, construtiva e de acordo com os objetivos que
definimos: não aos cortes na política de coesão; não aos cortes na política agrícola, sobretudo aos cortes no
segundo pilar da política agrícola; reforçar o investimento na investigação e inovação; reforçar a capacidade de
integração dos migrantes nas sociedades europeias; ter uma gestão ativa dos fluxos migratórios,
designadamente por via dos programas de apoio ao desenvolvimento do continente africano; e investir no
combate ao terrorismo, que é uma ameaça global que impende sobre todos nós.
Do que esta Europa precisa é de ter um orçamento à medida da sua ambição. Do que os europeus
verdadeiramente não gostam é de que a Europa lhes continue a prometer mais do que aquilo que, efetivamente,