I SÉRIE — NÚMERO 82
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Segundo estudos internacionais, Portugal perde, a cada ano, os impostos devidos por 20 000 a 30 000
milhões de euros de rendimento. Com justiça fiscal, faríamos um País muito mais justo e muito diferente.
É esse o desafio que quero deixar aqui hoje, pois, para o Bloco de Esquerda, não devemos aguardar mais.
Assim, no dia 17 de maio, realizar-se-á um agendamento potestativo do Grupo Parlamentar do Bloco de
Esquerda sobre sigilo bancário e, desde já, convidamos todos os partidos a agendarem também as suas
propostas sobre esta matéria e o Governo a acompanhar este processo.
O Bloco de Esquerda propõe alterações ao sigilo bancário para permitir ao fisco conhecer os depósitos acima
de 50 000 euros, de modo a evitar a fuga ao fisco e a termos, assim, circunstâncias de igualdade entre cidadãos
estrangeiros e cidadãos nacionais com contas dentro e fora do País.
Sobre quem nada deve, o Estado ficará a saber o mesmo que hoje já sabe pela declaração de IRS. Só tem
razão para temer esta alteração quem vive de dinheiro sujo ou da fuga ao fisco em grande escala.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — O segundo objetivo da nossa alteração é permitir aos contribuintes
conhecerem os grandes perigos financeiros a que possam estar expostos.
Queremos com esta alteração que o Banco de Portugal possa e deva divulgar os relatórios anuais sobre os
maiores devedores da banca que estão em incumprimento.
O Parlamento está, neste momento, a debater requerimentos sobre essa matéria mas, como todos sabemos,
porque temo-lo requerido a cada comissão de inquérito, estes pedidos batem no muro do sigilo bancário.
Portanto, é preciso mexer na lei, e que seja para se saber tudo.
O PSD apela a que sejam conhecidos os maiores devedores da Caixa Geral de Depósitos. Quando está em
causa dinheiro público, temos de saber quem incumpriu.
O Sr. Adão Silva (PSD): — Muito bem!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — De acordo! Mas há dinheiro público só na Caixa Geral de Depósitos? Não!
A Caixa recebeu 2800 milhões de euros; para o BPN foram mais de 5000 milhões de euros de dinheiro público,
e a conta continua a aumentar. Então, o PSD não quer conhecer os maiores incumpridores do BPN? Daquele
banco que tinha o conselho de administração igual a um conselho de ministros do PSD?!…
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Peço-lhe o favor de concluir, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Com a mesma tolerância dada aos outros partidos, concluirei, Sr.
Presidente.
E do BES, que está tão envolvido no escândalo Sócrates mas teve gente em todos os Governos nos últimos
25 anos?! Já foram 5000 milhões de euros e ainda será mais. Não queremos conhecer? E do BANIF, o banco
protegido do Governo Regional da Madeira?! E do BCP e do BPI, que tiveram empréstimos de 4500 milhões de
euros públicos, no mesmo momento em que se cortavam o subsídio de desemprego e o abono de família?! Não
queremos conhecer?
Sejamos consequentes: tenhamos a coragem de mexer…
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tem mesmo de concluir, Sr.ª Deputada, com tolerância e tolerância.
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Com certeza, Sr. Presidente.
Tenhamos a coragem de mexer nos segredos que só protegem quem não deve ser protegido e façamo-lo
com dois objetivos: combater a evasão fiscal e proteger as contas públicas.
Uma última nota em cinco segundos: Sr. Primeiro-Ministro, Donald Trump decidiu retirar os Estados Unidos
do acordo nuclear com o Irão. Foi um erro, é perigoso, e Portugal não deve ficar indiferente.
Aplausos do BE.