I SÉRIE — NÚMERO 95
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O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — O ano de 2016 foi o ano que marcou a recuperação de direitos, foi o ano
que marcou a recuperação de salários, foi o ano que marcou a recuperação do subsídio de desemprego, dos
apoios aos mais pobres, dos apoios aos mais idosos, foi o ano que marcou o aumento do salário mínimo, e isso
refletiu-se nas contas públicas e no crescimento económico.
O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Muito bem!
Protestos de Deputados do PSD e do Deputado do CDS-PP João Pinho de Almeida.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Srs. Deputados, vamos falar sobre cativações? Certamente! Houve uma
parte do aumento de quase 300 milhões para a saúde em 2016 que ficou cativada, mas a verdade é que há uma
diferença abismal entre isso e os 2000 milhões que foram cortados na saúde em 2013 e em 2014 pelo Governo
PSD/CDS.
O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Muito bem!
Protestos dos Deputados do PSD Miguel Morgado e do CDS-PP João Pinho de Almeida.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Essa, Srs. Deputados, é uma realidade à qual não queremos voltar,
porque, se pouco investimento no SNS é a garantia do seu definhamento, investimento nenhum ou cortes no
investimento, como fizeram o PSD e o CDS, é querer destruir o SNS em menos de pouco tempo.
O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Mas, Srs. Deputados, se houve uma parte da consolidação orçamental
que se deveu ao crescimento económico e a medidas certas e ajustadas, também é verdade que o desempenho
económico poderia ter sido melhor se o Governo tivesse optado por uma política menos restritiva do ponto de
vista da execução orçamental. Isto quer dizer várias coisas, e uma delas é que o Governo escolheu ter um défice
que ficou aquém da meta que tinha estabelecido — e das várias metas que foi até revendo ao longo do tempo
—, sendo a própria UTAO (Unidade Técnica de Apoio Orçamental) a dizer que o crescimento económico poderia
ter sido melhor, tivesse havido uma política diferente.
O facto mais óbvio desta política orçamental que ficou aquém daquilo que era necessário é o investimento
público. O Governo não consegue justificar porque é que não executou o investimento público que orçamentou,
a não ser pela política de restrição orçamental que levou a cabo, com custos para o crescimento da economia.
Outro fator que deve ser mencionado são as cativações, obviamente: houve 1000 milhões que ficaram cativos
em 2016, que foi o ano mais alto das cativações, apesar de, com as cativações, os Orçamentos terem subido,
mas muito menos do que aquilo que era necessário.
Sr. Secretário de Estado, as cativações são uma forma de execução orçamental errada — acho que já existe
um consenso alargado sobre isto, até porque elas têm vindo a reduzir —, e são uma forma de execução
orçamental errada porque 1000 milhões são necessários aos serviços públicos; são uma forma de execução
orçamental errada porque isso não dá autonomia aos Ministérios setoriais e, depois, os ministros setoriais têm
de vir sistematicamente ao Parlamento dizer que não conseguem executar despesa porque o Ministério ao qual
o Sr. Secretário de Estado pertence, o Ministério das Finanças, não deixa e, portanto, centraliza despesas que
deveriam pertencer a ministérios setoriais; e são uma forma de execução orçamental errada porque é pouco
transparente. Aliás, foi por serem uma forma de execução orçamental pouco transparente que vários partidos
na Assembleia da República — e não apenas o CDS — propuseram alterações para que o Parlamento pudesse
fiscalizar a política de cativações do Governo. É lamentável que tenha sido necessário ser assim, mas foi, e hoje
temos novos mecanismos para fiscalizar e temos, aliás, mecanismos introduzidos no Orçamento do Estado para
2018 — por proposta do Bloco de Esquerda, diga-se — que limitam as cativações, nomeadamente na saúde.