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I SÉRIE — NÚMERO 96

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Mas há outra questão, Sr. Primeiro-Ministro: perante a emergência que a cada dia se vive e a previsível

recusa de Itália em receber mais refugiados e migrantes, o método ad hoc, que se verificou, de ver que país se

propõe primeiro para receber náufragos, vai passar a ser regra? Acha que isto faz algum sentido neste

momento?

Nesta União Europeia, Sr. Primeiro-Ministro, não são só os refugiados que estão a ficar à porta, são também

os direitos humanos e a solidariedade internacional.

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!

A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Sr. Primeiro-Ministro, no outro grande tema, que é o da reforma da zona euro,

também o acordo franco-alemão não traz boas notícias.

O Sr. Primeiro-Ministro tem falado muito sobre a reforma da zona euro, mas, até agora, sem ideias suas,

próprias, em cima da mesa, deixando a indicação de que está em linha com as propostas de Macron.

Portanto, as perguntas são: isso quer dizer que concorda com a criação de um orçamento comum entre os

países da zona euro? Concorda com a criação de um ministro das finanças europeu? Concorda com a redução

da soberania orçamental dos Parlamentos nacionais? Concorda com isso tudo, que já se verificou ser uma má

receita para os povos?!

E sabendo também que, em Portugal, apenas recomeçámos a ter crescimento económico e orçamentos que

respondem aos cidadãos, porque cortámos exatamente com as políticas europeias de austeridade, a questão

que se coloca é a de saber se a aceitação destas propostas é um ato de arrependimento do Sr. Primeiro-Ministro.

Aceita desta forma a vitória da tecnocracia europeia, sobrepondo-se à democracia?

Todos estes temas estão ligados e é hoje inegável que, se queremos combater o crescimento da extrema-

direita, primeiro, teremos de admitir que ela foi alimentada pela elite europeia existente e pelas suas políticas.

Ao recusar, sistematicamente, a democratização do processo político europeu e ao aprofundar mecanismos

de austeridade, a atual elite europeia ajudou a fomentar a chegada a vários governos de movimentos de

extrema-direita.

Não querer perceber este processo e insistir em medidas e propostas que são mais do mesmo, mas para

pior, é deixar caminho aberto para que a União Europeia se transforme cada vez mais rapidamente numa caixa

de horrores, a que Trump estende, agora, a sua simpatia. E, afinal, novamente, os direitos humanos estão

desaparecidos do combate da União Europeia.

Numa Europa desigual, marcada pela divergência, a proposta de orçamento europeu é mais um erro de

palmatória: cortar na política de coesão é, na verdade, fazer a escolha da desagregação. Não temos dúvidas de

que o Governo se tenha esforçado por melhorar as condições deste orçamento para Portugal, mas é preciso

muito mais.

Não se pode repetir aquilo que, historicamente, sempre fizeram os governos socialistas, confrontados com a

direita europeia: têm reservas, discordam, mostram-se preocupados, fazem avisos, mas, depois, apoiam e

votam favoravelmente.

Sr. Primeiro-Ministro, tenho-o ouvido dizer que quer reformar a Europa, que quer uma Europa de coesão.

Portanto, se quer reformar a Europa e se quer defender o País tem de afirmar já que este orçamento comunitário

não pode passar e não irá passar.

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Tem a palavra, também para uma intervenção, o Sr. Deputado

Pedro Mota Soares.

O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Sr.ª e Sr. Secretários de

Estado, Sr.as e Srs. Deputados: Antes de ir aos outros temas do Conselho Europeu, permita-me, Sr. Primeiro-

Ministro, só mais uma última e rápida nota sobre o próximo quadro comunitário.

O Sr. Primeiro-Ministro vem aqui tentar fazer uma coisa que é impossível: explicar o que é inexplicável!

Ninguém percebe, Sr. Primeiro-Ministro, como é que as verbas da coesão, que são, exatamente, aquelas verbas