I SÉRIE — NÚMERO 15
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da parte do Governo, estava tudo feito: a recuperação do material estava feita e o recondicionamento do material
estava feito, como quem diz «assunto encerrado, não nos incomodem mais». Mas está longe de estar feito.
Falta saber por que razão o Primeiro-Ministro não ordenou um inquérito ou uma inspeção ao que aconteceu,
refugiando-se sempre e só no Ministério Público.
Falta saber o que disse o chefe de gabinete do Ministro da Defesa ao Ministro da Defesa. E, já agora, falta
saber se o Ministro da Defesa disse alguma coisa ao Primeiro-Ministro sobre aquilo que eventualmente teria
ouvido do chefe de gabinete.
Depois, faltava ainda saber, porque agora já não falta, agora até já se sabe, quando é que era entrincheirada
e sepultada a metáfora do Primeiro-Ministro, no sentido de que tirássemos os «cavalinhos da chuva», porque o
Ministro da Defesa não ia ser demitido. Azar dos azares! É que logo a seguir choveu, os cavalinhos ficaram à
chuva, o Ministro foi demitido e o CEME (Chefe do Estado-Maior do Exército) também acabou por ser demitido.
Srs. Deputados, depois desta varridela para isolar e sitiar o problema, o Primeiro-Ministro entende que já
resolveu tudo, mas não resolveu.
É preciso saber como é que este material desapareceu. É preciso saber como é que ele foi encontrado. É
preciso saber que uso lhe foi dado. É preciso saber com que objetivos ele foi furtado. É preciso saber se ainda
há ou não armas à solta. É preciso saber por que razão é que o ex-Secretário-Geral do Sistema de Informações
da República Portuguesa e a Secretária-Geral do SSI (Sistema de Segurança Interna) souberam deste assunto
através dos jornais, numa bizarria como nunca se viu.
Como é que o Primeiro-Ministro e o Ministro da Defesa não informam estes dois órgãos supremos
responsáveis pela segurança nacional de um furto de armas letais?!
Por último, Sr.as e Srs. Deputados, também é preciso saber o que é que pensa o novo Ministro da Defesa
sobre este caso, o que tem a dizer em relação à demissão do CEME e às razões que evocou.
O Sr. Presidente: — Já ultrapassou o tempo de que dispunha, Sr. Deputado.
O Sr. CarlosPeixoto (PSD): — Em suma, Sr. Presidente, mesmo a terminar, para o PSD, é preciso apurar
politicamente tudo até às últimas consequências, de alto a baixo, doa a quem doer, sem contemplações ou
complacências e sempre em busca da verdade e da dignidade das instituições e do País.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João Vasconcelos, do Grupo
Parlamentar do Bloco de Esquerda.
O Sr. JoãoVasconcelos (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O roubo de armamento militar do
Paiol Nacional de Tancos, em junho do ano passado, foi um acontecimento muito grave.
Este triste e grave acontecimento representa um clamoroso falhanço do Estado numa das suas funções
essenciais, a função de defesa.
Perante o sucedido, torna-se imperioso apurar as responsabilidades até ao fim. Foi o que exigiu logo o Bloco
de Esquerda, que, na altura, solicitou um conjunto de esclarecimentos ao Ministério da Defesa e solicitou que
fosse feita uma investigação rigorosa, não aceitando que, mais uma vez, a culpa morresse solteira.
O Sr. PedroFilipeSoares (BE): — Muito bem!
O Sr. JoãoVasconcelos (BE): — Mas aquilo a que assistimos, ao longo de todo este tempo, foi a uma
espécie de telenovela mexicana, não fosse a gravidade do caso.
Ao longo de mais de um ano, sucederam-se na Assembleia da República várias audições a responsáveis
políticos e militares, onde foram produzidas muitas declarações contraditórias e foram elaborados relatórios.
Houve algumas punições militares e, ultimamente, o País assistiu a demissões e até a algumas prisões. Prisões
não relacionadas diretamente com o desaparecimento do material de guerra mas — imagine-se! — com uma
alegada encenação do seu reaparecimento na Chamusca.