I SÉRIE — NÚMERO 15
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O Sr. JorgeMachado (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: O PCP, desde a primeira hora, sinalizou
que o furto de Tancos é de enorme gravidade e apontou para a necessidade de apurar todas as
responsabilidades.
O Sr. António Filipe (PCP): — Muito bem!
O Sr. JorgeMachado (PCP): — Falo do apuramento de responsabilidades do ponto de vista criminal, que
compete aos tribunais — é aos tribunais que está reservado o apuramento dessas mesmas responsabilidades
—, mas também falo do apuramento de responsabilidades políticas de sucessivos governos, que deixaram
degradar as instalações militares de Tancos,…
O Sr. António Filipe (PCP): — Essa é que é essa!
O Sr. JorgeMachado (PCP): — … do atual Governo e também responsabilidades políticas da alta estrutura,
ou seja, do Exército, um dos ramos das Forças Armadas.
Dito isto e antes de entrarmos na questão da comissão parlamentar de inquérito propriamente dita, queríamos
deixar duas notas prévias.
Em primeiro lugar, o PCP vê com naturalidade e até regista como positivo o funcionamento da justiça. Não
alinhamos nesta ideia que tem sido cultivada de que aquilo que se passa dentro das instituições deve ficar dentro
das instituições.
O funcionamento da justiça está a operar, há, naturalmente, publicitação do que está a acontecer e
registamos esse facto como positivo. Uma cultura de interiorização dos problemas, sem permitir que saiam cá
para fora, deve ser combatida.
Em segundo lugar, as demissões ocorridas, quer a do Sr. Ministro da Defesa Nacional, quer a do Chefe do
Estado-Maior do Exército, em nada retiram a necessidade de apurar responsabilidades. O que aconteceu
ultrapassa em muito estes dois titulares e há muitas dúvidas que importa esclarecer.
A comissão parlamentar de inquérito proposta pelo CDS-PP é limitada quanto ao seu alcance, porque os
novos dados e informações que existem estão ainda no âmbito do processo judicial e em segredo de justiça,
previamente a uma fase de acusação. A partir da acusação haverá, naturalmente, um conjunto de informações
que se tornará público e que permitirá acrescentar informação e dados aos trabalhos do Parlamento. Até lá, é
muito complicado, na nossa perspetiva, ter novos dados e informações que estejam em segredo de justiça, uma
vez que a sua divulgação compromete o trabalho e o funcionamento da justiça, algo que não queremos que
aconteça.
Também entendemos que é preciso responsabilizar, sim, mas não percebemos a iniciativa do CDS, que
apenas se propõe responsabilizar a partir de junho de 2017 para a frente. Não faz qualquer sentido.
Este crime é também um crime de oportunidade. As instalações militares de Tancos estavam degradadas.
Por que razão é que estavam degradadas? Por que razão é que o sistema de videovigilância estava
inoperacional e não houve medidas, quer da alta estrutura militar, quer dos responsáveis políticos, para resolver
este problema em devido tempo? Por que razão é que as vigias e o sistema de segurança presencial estavam
tão debilitados?
Ora, nós não podemos dizer que as responsabilidades começam em junho de 2017. E até lanço já uma
pergunta ao CDS-PP, no sentido de saber se está disposto a alargar o apuramento de responsabilidades não
apenas em relação a este Governo mas a sucessivos governos que tiveram responsabilidades, sim, na
degradação das condições de segurança.
Há, efetivamente, vários responsáveis da alta estrutura militar e as responsabilidades não devem ser
apuradas só a partir de junho de 2017. Os responsáveis da alta estrutura militar do ramo do Exército das Forças
Armadas têm antecedentes e é preciso que a comissão parlamentar de inquérito seja abrangente.
Portanto, não se percebe por que razão é que o CDS-PP parte para esta comissão parlamentar de inquérito
e fica pela metade quanto ao apuramento das responsabilidades, a metade que interessa politicamente ao CDS
apurar.