25 DE OUTUBRO DE 2018
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O que é certo é que o Exército, pela boca do seu responsável máximo, foi taxativo, quando afirmou que tinha
havido violação dos perímetros de segurança dos paióis de Tancos e o arrombamento de dois paiolins, levando
ao desaparecimento do material militar, por meio de cumplicidade interna, para além de erros estruturais e
sistémicos, de desleixo e falta de supervisão.
Até hoje nada mais se sabe publicamente sobre o furto: como? Quem? De que modo? A que horas? Quais
as pessoas envolvidas? Que meios de transporte foram envolvidos na operação?
O que se soube, de forma concreta, e que terá contribuído para o roubo do material militar, foi que os sistemas
de videovigilância de Tancos estavam avariados desde 2012, portanto, desde o tempo do anterior Governo
PSD/CDS.
O PSD e o CDS não podem fazer de conta que nada têm a ver com esta situação de desinvestimento e
degradação que atingiu duramente as instalações e a condição militar, à semelhança dos gravosos ataques e
cortes na qualidade de vida e nos direitos do povo português.
É preciso não esquecer que foi através do documento Defesa 2020 que o anterior Governo agravou o EMFAR
(Estatuto dos Militares das Forças Armadas), reduziu os direitos laborais e profissionais dos militares e procedeu
a uma reestruturação de unidades e efetivos, orientando os investimentos numa ótica que fosse ao encontro
dos interesses da NATO.
Sobre o roubo do armamento militar em Tancos, as peripécias continuaram a deixar o País alarmado. A
Procuradoria-Geral da República suspeitou da prática de crimes de associação criminosa, tráfico de armas e
terrorismo internacional. Depois, foi o reaparecimento do material na Chamusca, mas, pelos vistos, com uma
caixa de explosivos a mais.
Mais tarde, o Ministério Público, com base numa notícia de jornal, veio dizer que o material de guerra não
tinha sido todo recuperado e que ainda estavam «à solta» várias cargas de explosivos e granadas que dariam
para fazer atentados terroristas.
Esta é uma situação muito grave mesmo e que é necessário investigar até ao fim, para apurar todas as
responsabilidades, como o Bloco de Esquerda tem exigido.
Desde o início, a investigação tem sido realizada a cargo do Ministério Público e da Polícia Judiciária, e bem.
É preciso deixar que a justiça faça o seu trabalho sem qualquer perturbação e sem interferência do poder político,
no absoluto respeito pela separação de poderes e pelo preceito constitucional.
Se o Governo não tem andado bem nesta matéria, então, os partidos da direita também não. Quer o CDS a
constituição de uma comissão de inquérito ao caso de Tancos, mas o Bloco de Esquerda considera que é
precipitada e extemporânea, enquanto estão a decorrer as investigações judiciais.
O Sr. Luís Vales (PSD): — Quando convém!…
O Sr. JoãoVasconcelos (BE): — Este é o momento da investigação e a justiça não está parada, está a
fazer o seu trabalho, como se comprova.
Este é o momento de separar a política da justiça. Depois de retiradas as consequências no âmbito desta
investigação, caberá, então, à política retirar as suas ilações. O Ministério Público, afinal, deu prioridade e
continua a trabalhar afincadamente no caso.
O País precisa de saber o que aconteceu o quanto antes e os responsáveis pelo desaparecimento do material
de guerra devem ser todos encontrados e devidamente responsabilizados, para que se encerre um dos
episódios mais negros da história militar portuguesa.
Há aqui algum oportunismo político da parte do CDS, e até muita inconsequência, porque este partido sabe
que não é possível uma comissão de inquérito interferir numa investigação em curso. De qualquer modo, o Bloco
de Esquerda não se irá opor à constituição da comissão.
Aplausos do BE.
O Sr. CarlosPeixoto (PSD): — Quem diria!
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Jorge Machado, do Grupo
Parlamentar do PCP.