I SÉRIE — NÚMERO 23
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O Sr. Jorge Campos (BE): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados, o Grupo
Parlamentar do Bloco de Esquerda congratula-se com o facto de esta Câmara ter aprovado, ontem, a reativação
do Programa ProMuseus. É um passo certo no sentido de dotar o País de uma rede de intervenção cultural que
reforça a descentralização e tem consequências na intervenção cívica, promovendo o acesso à cultura.
Agora, o Programa — que tinha sido suspenso pelo Governo da direita, é bom lembrá-lo — poderá,
finalmente, retomar as funções para as quais foi criado: renovar, modernizar e valorizar a Rede Portuguesa de
Museus não dependentes da administração central, sobretudo os museus municipais, tantos deles condenados
a um lento declínio.
Valeu a pena insistir, e o Bloco vai continuar a insistir para que a cultura tenha direito ao lugar que lhe cabe.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Tem, agora, a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado José Luís Ferreira.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, a proposta que Os Verdes
avocaram para discussão em Plenário, hoje, enquadra-se no conjunto de propostas que apresentámos para a
ferrovia e tem como preocupação central a necessidade de procurar uma política sustentável de transportes, o
que passa pelo investimento nos transportes públicos e, em particular, na ferrovia.
A proposta pretende não só contribuir para uma resposta adequada às necessidades dos cidadãos, mas
também para que a ferrovia se assuma como um verdadeiro alicerce para a redução da emissão de gases com
efeito de estufa, para o combate às alterações climáticas — que têm de ser encaradas com responsabilidade —
e ainda naquilo que pode representar, no que diz respeito à necessidade de dar resposta aos compromissos
que Portugal assumiu, no plano internacional, em matéria de alterações climáticas.
Insistimos na proposta, porque o nosso País precisa mesmo de um setor ferroviário que consiga dar resposta
às necessidades das populações, aos desafios ambientais e energéticos, que favoreça o desenvolvimento do
País e que possa combater as assimetrias regionais.
Ora, sendo a EMEF (Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário, SA) a empresa que assegura a
manutenção, revisão e reparação do material circulante em Portugal, esta terá de ser olhada como um pilar
fundamental do funcionamento do serviço público ferroviário, tanto a nível da segurança quanto da qualidade e
da disponibilidade de material.
Sucede que esta empresa pública, detida a 100% pela CP, sofreu, nos últimos 10 anos, devido a opções
políticas de desinvestimento, uma perda de mais de um terço dos seus trabalhadores e um grande
envelhecimento do seu quadro de pessoal. Sabemos que, em agosto do ano passado, a média de idades
rondava os 55 anos, situação que leva a prever, brevemente, novas saídas, tendo em conta que muitos destes
trabalhadores se enquadram nas longas carreiras contributivas.
Bem sabemos que o atual Governo abriu um concurso para a contratação de mais 102 novos trabalhadores
para a EMEF, mas também sabemos que este número é absolutamente insuficiente, porque nem sequer repõe
as saídas ocorridas nos últimos anos.
Acresce ainda que a acumulação de material inoperacional, por envelhecimento nos estaleiros, não para de
se avolumar — tal como, aliás, Os Verdes puderam constatar, no passado mês de agosto, durante uma visita
de trabalho feita ao Pólo Oficinal da EMEF, no Entroncamento —, uma situação que decorre, também ela, do
desinvestimento que levou a CP a não comprar material circulante durante mais de duas décadas.
Para além disso, o novo material circulante, cuja autorização de compra foi agora emitida, não estará
disponível antes de 2020, sendo que o material circulante atualmente operacional não chega para dar resposta
ao serviço que a CP deveria garantir às populações, nem sequer para fazer face ao aumento dos passageiros
que se tem vindo a verificar.
Em síntese, com o número de trabalhadores atuais, a EMEF não consegue dar resposta às necessidades da
CP, seja nas áreas da manutenção, seja na revisão, seja ao nível da reparação.
Por isso mesmo, Os Verdes propõem que o Governo promova, com a maior urgência, as diligências
necessárias, tendo em vista a contratação de mais trabalhadores para a EMEF.
Esperamos agora que o PS reconsidere o seu sentido de voto nesta proposta, que acaba por ser também
uma oportunidade para que o PS não perca o comboio.