17 DE JANEIRO DE 2019
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O Sr. LuísMoreiraTesta (PS): — Sr. Presidente, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados, existe, neste momento,
um dilema que nos deve congregar a todos: perante um mau serviço prestado por atribuição de uma concessão
pública do Estado, o que é que o próprio Estado deve fazer?
O Sr. HélderAmaral (CDS-PP): — Fiscalizar! Atuar!
O Sr. LuísMoreiraTesta (PS): — Por um lado, já ouvimos aqui o repto à reversão da privatização, com as
condicionantes que eu próprio já referi da quase impossibilidade de se fazer, uma vez que a privatização foi
atrelada a uma licença bancária e, por isso, hoje, nacionalizar ou reverter essa privatização não é só reverter a
privatização dos CTT, mas também é nacionalizar um banco.
Protestos do PCP.
Por outro lado, também já ouvimos, não poucas vezes, o repto, por exemplo do Bloco de Esquerda, para a
reversão da concessão do serviço postal. Perante essa circunstância, o que é que o Estado faria com a
concessão que lhe chegaria às mãos, mas sem a rede e sem a empresa de distribuição? Digo, por graça, que,
se calhar, restava apenas a GNR para entregar cartas. Portanto, a reversão da concessão também não pode
ser a solução.
Assumo que a auditoria que deve ser feita ao processo de privatização da empresa CTT deve, ela própria,
poder responder às premissas que devemos todos encontrar do ponto de vista político, e as responsabilidades
não podem ser apenas do regulador, têm de ser também assumidas pela Assembleia da República e pelos
Governos. Essa auditoria deve, em si mesma, encerrar respostas que o Estado português deve dar a este tão
deficiente serviço que tem sido prestado às populações, ao território e, mormente, àqueles que mais dele
necessitam: as populações que vivem em locais isolados, que, muitas vezes, precisam de levantar as suas
reformas em forma de vale postal.
Portanto, é nesse sentido que reafirmamos o nosso compromisso com o povo português e com o País.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tem agora a palavra, ainda para um pedido de esclarecimento, o Sr.
Deputado Heitor de Sousa, do Bloco de Esquerda.
O Sr. HeitorSousa (BE): — Sr. Presidente, hoje é o primeiro dia de uma discussão sobre os CTT que,
certamente, vai repetir-se bastantes vezes ao longo deste ano, porque, como todos sabemos, o prazo limite da
concessão do serviço postal universal termina no dia 31 de dezembro de 2020 e é neste ano, ou seja, um ano
antes, que a Assembleia da República pode e deve tomar a decisão de saber se os CTT, tal qual existem, devem
continuar a exercer o serviço postal universal ou se devem voltar para a esfera pública, para que seja o Estado
a assumir um serviço postal universal que a administração dos CTT, privada, já demonstrou que não quer fazer
e que não está em condições de fazer.
E não está em condições de o fazer porque, como já se percebeu, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados, a
estratégia da administração dos CTT é a de transferir para as autarquias o serviço postal universal e ficar com
o exercício da licença bancária como única e exclusiva atividade dos CTT. De resto, em muitas estações dos
CTT já se vê mais o anúncio ao Banco CTT do que, propriamente, a estação de correios CTT.
É por isso que, Sr. Deputado José Luís Ferreira, lhe perguntava o que acha desta questão, deste fantasma
que o próprio Partido Socialista está agitar de que existe uma licença bancária associada, esquecendo que os
serviços financeiros postais eram uma atividade concessionada que era secundária na concessão dos CTT.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Peço-lhe para concluir, Sr. Deputado.
O Sr. HeitorSousa (BE): — Cada vez mais, a atividade financeira, isto é, a atividade bancária é a atividade
principal dos CTT.