I SÉRIE — NÚMERO 2
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lucros. Foi isso que aconteceu nos casos do BPN e do Banif: os prejuízos foram públicos e os lucros para os
privados.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Duarte Alves (PCP): — Portanto, é preciso começarmos a cair na realidade. Já pagámos as contas do Novo Banco e continuamos a pagá-las. Agora, se os prejuízos são públicos, há que garantir que os lucros
não são privados e que não se repete o mesmo erro de colocar o Estado a pagar sem ter o controlo. É esse o
sentido da iniciativa que o PCP apresentou nesta Assembleia.
Aplausos do PCP e do PEV.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Srs. Deputados, passamos ao quinto ponto da ordem do dia, com o debate conjunto dos Projetos de Resolução n.os 75/XIV/1.ª (CDS-PP) — Recomenda ao Governo que crie uma
rede de apoio familiar e promova o estudo e o debate para uma política de família e de natalidade, 77/XIV/1.ª
(CDS-PP) — Constituição de uma comissão eventual para o acompanhamento das iniciativas sobre a família e
a natalidade, 59/XIV/1.ª (PSD) — Por uma política integrada para a infância e a família e 255/XIV/1.ª (PCP) —
Recomenda ao Governo a adoção de medidas transversais e integradas de apoio e incentivo à natalidade.
Para apresentar os projetos de resolução do CDS-PP, tem a palavra o Sr. Deputado João Pinho de Almeida.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A demografia é o problema mais grave que temos em Portugal, é o problema estrutural mais grave que temos no País, é aquele
que condiciona a solução de todos os outros, pois, quando discutimos muitas matérias nesta Assembleia,
sabemos que a nossa evolução demográfica condiciona muito a eficácia das soluções que discutimos.
Os dois indicadores principais desta realidade são, por um lado, a diminuição dos nascimentos — desde o
início do século, os nascimentos em Portugal diminuíram 28% — e, por outro, o envelhecimento da população.
Com a subida dos óbitos, que aumentaram em 6% desde o início do século, a consequência é a de que temos,
desde essa altura, um envelhecimento da população de 63%.
Podemos discutir à vontade a localização da população, se é mais no litoral ou mais no interior, podemos
discutir as soluções de sustentabilidade para a segurança social, podemos discutir o modelo do Serviço Nacional
de Saúde, podemos discutir a viabilidade das reformas educativas que promovemos. Podemos, devemos e
discutimos estas questões todas, o que não podemos ignorar é que, em cada uma das referidas questões, esta
evolução demográfica pesa negativamente.
Se não invertermos esta tendência, não conseguiremos dar sustentabilidade ao modelo social em que
vivemos. Portanto, convém que, com tempo — e já não o temos em grande quantidade —, nos preparemos e
vamos tomando as medidas necessárias para restabelecermos um nível de natalidade minimamente equilibrado.
Convém dizer que, entre 2002 e 2019, a natalidade diminuiu de 1,55 para 1,42 nascimentos por mulher em idade
fértil. O valor para uma renovação geracional é de 2,1 e nós estamos em 1,42. Ou seja, estamos a envelhecer,
o que tem como consequência o aumento dos custos de todos os sistemas sociais, e estamos a ser cada vez
menos e a conseguir renovar menos, geracionalmente, a nossa população.
É por isso que o CDS entende que esta deve ser uma discussão de fundo, e não apenas uma discussão de
medidas isoladas.
Propomos, hoje, duas coisas muito claras.
Uma é no sentido de introduzir no sistema social um apoio à família que permita apoiar as decisões de
viabilidade e de gestão económicas, de gestão de saúde e de gestão social destes agregados familiares. Ou
seja, não retirando autonomia às famílias, vai no sentido de permitir que esse apoio lhes dê instrumentos para
tomarem decisões que ajudem a este desenvolvimento da natalidade e para que tenham condições de ter filhos
e renovar a população.
Na segunda iniciativa propomos que esta Legislatura seja marcada, na Assembleia da República, pela
questão da demografia. Se conseguirmos criar a comissão eventual para discutir esta matéria, estaremos a dar
um contributo que irá no sentido da reflexão que vários partidos e várias entidades públicas e privadas já fizeram
em Portugal.