I SÉRIE — NÚMERO 2
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A catástrofe dos incêndios é tanto mais incompreensível, Srs. Deputados, quanto são bem conhecidas as
suas causas: uma política agrícola com a ausência de políticas de ordenamento do território, porque foram
expulsando das terras agrícolas e florestais milhares de famílias, agricultores e pastores, que eram, eles
próprios, o melhor capital para a deteção, prevenção e o combate aos fogos; uma floresta em grande parte
dedicada à monocultura de resinosas, terreno fácil para a deflagração dos incêndios; áreas florestais alvo de
interesse dos promotores da floresta industrial de crescimento rápido; baixos preços da madeira e do rendimento
da silvicultura; e, sim, Srs. Deputados, falta de uma política de rearborização das áreas ardidas, mas,
principalmente, uma floresta semeada pelo despovoamento, pela desertificação económica de muitas áreas e
regiões do País, pelo desmantelamento das estruturas do Estado para a floresta, de que são responsáveis tanto
o PSD quanto o CDS e o PS, que não corrigem decisivamente este problema, fazendo sofrer a agricultura e o
mundo rural.
E qual tem sido a postura do atual Governo do PS, tal como do PSD e do CDS? «Sacudir a água do
capote»,…
Risos do Deputado do PSD João Moura.
… desresponsabilizar-se, lançando um ataque terrível aos pequenos proprietários florestais, acusando-os de
serem culpados dos incêndios.
Por isso, é necessário que o poder político assuma as suas responsabilidades, nomeadamente defendendo
a pequena propriedade, não fazendo da pequena propriedade e das autarquias bodes expiatórios.
Sr. Deputado Joaquim Barreto, deixe-me que lhe diga que não é com propaganda que se resolve o problema
e muito menos com ficção. O problema da ficção nem sequer está na criação dessa mentira, está em ser o
principal obstáculo à tomada das medidas necessárias.
Protestos do Deputado do PS Joaquim Barreto.
O PCP irá defender a criação de um sistema de apoio à limpeza de espaços florestais a que os pequenos e
médios proprietários possam recorrer, assim como a de uma bolsa de prestadores de serviços, com preços-
padrão, que ajudem estes proprietários a cumprir o que é necessário, sem penalizar as autarquias e — muito
importante, Srs. Deputados — sem retirar aos proprietários a possibilidade de manterem os seus terrenos.
Também defendemos a criação de um sistema de valorização da biomassa florestal residual através da criação
de centrais de biomassa.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Sr. Deputado, tem de terminar.
O Sr. João Dias (PCP): — Sr. Presidente, termino dizendo que a floresta portuguesa e o povo não precisam de propaganda. Não haverá defesa da floresta portuguesa sem o respeito pelos pequenos e médios produtores
e sem a justa remuneração pela madeira que produzem.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Sr. Deputado João Moura, do PSD, tem a palavra para uma intervenção.
O Sr. João Moura (PSD): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Perante o problema da falta de atratividade dos territórios rurais, que representam dois terços do território nacional, e do seu crescente abandono, o
fundamentalismo antieucalipto das soluções apresentadas pouco ou nada contribui para a revitalização
económica, social e até ambiental do nosso território, antes pelo contrário. São contributos que potenciam o
abandono do território, na medida em que visam retirar e aniquilar as suas principais fontes de rendimento
florestal.
Nesta Casa, há pouco mais de um ano, em maio de 2019, o Sr. Primeiro-Ministro dedicou um debate
quinzenal à floresta, em particular à estratégia integrada para os incêndios florestais. Disse o Sr. Primeiro-
Ministro que nunca se tinha feito tanto pela floresta em Portugal como ele já fez e que a reforma da floresta era