I SÉRIE — NÚMERO 3
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É um mau princípio, é um mau sinal para o País. É, aliás, contraditório com as bases teóricas das ferramentas
de política pública que visam a remuneração de serviços de ecossistema, pois estas procuram ultrapassar as
limitações da propriedade privada através da cooperação entre proprietários agroflorestais e entre estes e as
populações locais.
O Governo decide, assim, iniciar pelo conflito entre atores. Em vez de os capacitar e de criar confiança no
processo, pretende começar pela ameaça do arrendamento forçado. Quem não aceitar as intenções ou quem
as aceitar mas não tiver tempo nem meios para garanti-las no imediato terá de arrendar as suas terras por 25
anos.
A quem serão entregues as terras e de que forma as populações poderão ser envolvidas nos processos de
decisão durante esse período, também não se sabe.
Protestos do Deputado do PS João Azevedo Castro.
O Governo quer um cheque em branco da Assembleia da República. Pelo Bloco de Esquerda, não passará.
Lutaremos por medidas de transformação da paisagem e de resiliência do território e temos propostas concretas,
que certamente teremos a oportunidade de discutir e de votar brevemente.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Para o encerramento deste debate, tem a palavra o Sr. Secretário de Estado João Catarino.
O Sr. Secretário de Estado da Conservação da Natureza, das Florestas e do Ordenamento do Território: — Ex.mo Sr. Presidente, Srs. Deputados: Permitam-me duas ou três reflexões.
Em primeiro lugar, o mais importante e que resume 90% das respostas às vossas intervenções é isto: o que
está previsto neste diploma é que só arrendaremos de forma necessária — «forçada» é o termo que está na lei,
por isso é que é o «forçado», mas devia ser de forma «necessária» — quando o Estado, antes disso, disser
«temos aqui o projeto, temos aqui o dinheiro, vamos pagar durante 20 anos toda a intervenção», e, mesmo
assim, o proprietário disser «a terra é minha, não deixo fazer». É só nessas circunstâncias.
Por isso, isto resolve 90% das vossas questões, que são legítimas, mas é só nestas circunstâncias. Primeiro,
o Estado tem de se chegar à frente, dizer que tem o dinheiro, que tem o projeto e que paga durante 20 anos.
Se, mesmo assim, o proprietário disser «mas eu não deixo», aí, calcula-se o justo valor e paga-se a renda. Não
se expropria ninguém, não se nacionaliza nada.
É isto que está na lei, é isto que pretendemos.
Já percebi que todos ficamos muito indignados pelos incêndios no verão, mas, quando é preciso fazer alguma
coisa realmente disruptiva, encolhemo-nos todos!
O Sr. Pedro do Carmo (PS): — É isso mesmo! É isso mesmo!
O Sr. Secretário de Estado da Conservação da Natureza, das Florestas e do Ordenamento do Território: — Não vale a pena, meus amigos!
Temos, hoje, um País, em que temos tido investimento público e temos tido até dinheiro do PDR (Programa
de Desenvolvimento Rural) para a floresta. É verdade. Só que temos o problema aqui e colocamos o dinheiro
ali. É isso que queremos evitar!
O que queremos é pôr o dinheiro onde está o problema. Esse é o Programa de Transformação da Paisagem,
caros Deputados! É para isso que o defendemos.
Meus amigos, têm, com esta proposta, uma boa oportunidade de olhar para o pinhal interior sul, de olhar
para os territórios vulneráveis, que foram classificados como vulneráveis, e de dizer assim: «É preciso dinheiro
para ali, é preciso mais investimento público, temos de pôr ali o dinheiro». É aí que queremos pôr o dinheiro do
IRR (Instrumento de Recuperação e Resiliência) — as várias centenas de milhões. É nos territórios vulneráveis,
não é no País todo, porque temos um País diferente, que precisa de uma atuação diferente.