I SÉRIE — NÚMERO 16
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O que acontece agora — e isso pode não ser ainda grave, mas é um sinal de alarme — é que, pela
primeira vez, a tendência se inverte, ou seja, pela primeira vez, a nível de criminalidade, não estamos só numa
tendência decrescente, estamos também numa tendência crescente, temos um sinal de inversão de tendência.
Sr. Ministro, aquilo em que vale a pena pensarmos é que, na correspondência entre a criminalidade e o
alarme social, alguns dos tipos de crimes que temos em crescimento são aqueles que mais alarme social
causam. São, por exemplo, os roubos na via pública e os assaltos e os ataques ao património. Estes são
alguns dos crimes que crescem e que são mais relevantes ou mais pesados no sentimento de segurança da
população, representando mais de 80% na comunidade em geral, mas muito centrados em alguns distritos do
País, designadamente Lisboa, Porto, Setúbal, Braga, o que também não é nenhuma novidade.
Por outro lado, e como o CDS sempre tem dito, temos também um fenómeno relevante, do ponto de vista
da segurança interna, que é a existência de cada vez mais crimes cometidos por gente mais nova, ou seja, há
também sinais preocupantes do ponto de vista da delinquência juvenil.
Ora, a delinquência juvenil, a existência de mais roubos e a existência deste tipo de crimes causa, em
alguma medida, um sentimento de insegurança que não devemos ignorar.
Acrescentaria a isto, Sr. Ministro — não é destaque especial neste relatório mas, para nós, é um fator de
preocupação, pelo que, já agora, aproveito a sua presença para referi-lo —, o que tem acontecido e a forma
como o Governo lidou com aquilo que todos sabemos ser hoje uma rota de imigração ilegal para o nosso País
e que o Sr. Ministro, a uma pergunta minha, apelidou de «ridícula», mas que, entretanto, o SEF veio confirmar
ser uma rota. Ora, isso devia ser uma preocupação essencial do Governo.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Queira concluir, Sr. Deputado.
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Vou mesmo concluir, Sr. Presidente. A grande questão aqui, Sr. Ministro, é, perante isto, o que vai fazer o Governo. É que é verdade que as
forças de segurança dão resposta, mas também é verdade que o Sr. Ministro não tem respondido às
promessas que fez às próprias forças de segurança, em meios, em equipamentos, em efetivos, em entradas, e
até em direitos essenciais, como são, por exemplo, os subsídios de turno ou de risco.
A grande pergunta, que carece de resposta, é esta: somos um País seguro, mas vamos continuar a
sacrificar as mulheres e os homens das forças de segurança ou vamos, finalmente, fazer-lhes justiça?
Muito obrigado, Sr. Presidente, pela sua tolerância.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Sandra Cunha, do BE.
A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — Sr. Presidente, Sr. Ministro, Sr.as e Srs. Deputados: Uma primeira nota para dizer que a continuidade da tendência desta criminalidade reduzida em Portugal não pode ofuscar o aumento,
infelizmente, de alguns tipos de criminalidade. Entre estes últimos, o Sr. Ministro já aqui referiu,
nomeadamente, os crimes de burla informática e comunicações, mas eu refiro-me especialmente ao crime de
violência doméstica, que regista 29 498 participações, mais 3015 casos e um aumento de 11,4% face a 2018.
Trata-se do valor mais elevado desde 2010.
Importa referir que, apesar destes aumentos — aumentos num ano e diminuições noutro —, a verdade é
que se verifica uma certa estabilidade nos números da participação da violência doméstica, que se mantém
sempre abaixo das 30 000 participações por ano. Mas esta aparente estabilidade não pode ser encarada
como uma boa notícia, porque significa que continua tudo mais ou menos na mesma e que, na verdade, não
estamos a vencer o combate a este crime absolutamente abjeto.
O crime de violência doméstica continua a corresponder ao segundo maior aumento em termos de
criminalidade participada, ao primeiro aumento na categoria de crimes contra pessoas; a esmagadora maioria
das vítimas continuam a ser mulheres e a esmagadora maioria dos denunciados continuam a ser homens.
E confirmando a marca de género do crime de violência doméstica, o RASI diz-nos que mais de 50% dos
homicídios voluntários consumados acontecerem em contexto conjugal ou parental/familiar e que, das 35
vítimas mortais, 26 ocorreram em contexto conjugal, sendo, mais uma vez, a esmagadora maioria delas
mulheres.