28 DE OUTUBRO DE 2020
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Que medidas toma o Governo para haver outra consideração pelo investimento nas infraestruturas, no
apoio à produção nacional, na melhoria do investimento público como forma de promover o emprego,
dinamizar o investimento privado e contribuir para a recuperação da economia?
O Sr. Primeiro-Ministro dirá que o Orçamento prevê um aumento do investimento público, como já ouvimos
na sua intervenção inicial. Mas a verdade é que já vimos este filme no Orçamento Suplementar, no qual foi
anunciado um aumento de 6200 para 6500 milhões de euros, face ao Orçamento inicial. Agora, apresenta-se
uma estimativa de execução, até ao final de 2020, que fica pelos 5500 milhões de euros, abaixo do
orçamentado no Orçamento Suplementar e abaixo do orçamentado no Orçamento inicial para 2020. É caso
para perguntar: que credibilidade é que têm estes números, estes anúncios de aumentos de investimento
público, se não forem acompanhados por medidas que garantam a sua concretização? Que garantias dá o
Governo de que os investimentos anunciados não vão ficar bloqueados, à semelhança do que aconteceu no
passado?
As dificuldades das regras da contratação pública, os problemas dos contratos não explicam a falta de
vontade política, a falta de decisão do Governo para executar muitos dos investimentos anunciados.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Duarte Alves (PCP): — O investimento público faz falta ao País. Investir agora é garantir uma resposta à crise que vivemos, mas é, sobretudo, não deixar arrastar problemas que, no futuro, vão custar
muito mais. Cabe ao Governo clarificar se vai ou não assumir a prioridade ao investimento público, tanto no
reforço de verbas como em medidas que garantam a sua execução.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Também para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Telma Guerreiro.
A Sr.ª Telma Guerreiro (PS): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, ao longo destes cinco anos e de cinco Orçamentos, os portugueses e as portuguesas têm sido testemunhas do indiscutível reforço do SNS,
ainda que alguns tentem mostrar o contrário. O PS prioriza a saúde, num compromisso com o País para
devolver o que lhe foi retirado nos tempos de governação «muito para além da troica». Compromisso que o
Partido Socialista lidera, mas que, até agora, partilha com os parceiros de esquerda deste Parlamento.
E não foi a crise pandémica que vivemos que desviou este caminho. A crise obrigou a respostas de curto
prazo, mas estas têm vindo a ser orientadas para que o que fazemos hoje signifique uma melhoria estrutural
amanhã, aumentando a capacidade de resposta do SNS, que é igual à capacidade de o País promover e
garantir a saúde de todos os portugueses, em todas as dimensões.
E é neste contexto multidimensional da saúde e de um pensamento a longo prazo que se abre uma janela
de oportunidade para a área da saúde mental, tantas vezes prometida e tantas vezes preterida.
O tema está na agenda mediática, o tema está na casa de cada um dos portugueses, porque o isolamento
e a vivência quotidiana da incerteza trouxeram uma consciência sobre o bem-estar psicológico ou sobre a falta
dele, que até agora muitos ignoravam.
E é com o foco de não deixar ninguém para trás que o Sr. Primeiro Ministro vem preconizando que este
Orçamento, conjugado com o Plano de Recuperação e Resiliência, inscreve a saúde mental como uma
prioridade. Pela primeira vez, é uma prioridade a promoção do bem-estar psicológico, a criação e a
organização de respostas em saúde mental, a promoção de literacia e o combate ao estigma.
Sr. Primeiro-Ministro, esta será das mudanças mais significativas para a qualidade de resposta do SNS em
Portugal, assim como para a coesão e a proteção social, e, para isso, o enfoque terá de estar na prevenção e
no desenvolvimento das pessoas.
O tema da saúde mental e o seu poder transversal tem sido reclamado por vários partidos nesta
Assembleia. O Bloco de Esquerda, por exemplo, é o primeiro responsável pela criação de um grupo de
trabalho sobre o tema. Portanto, não entendemos que o Bloco se levante contra o investimento de 19 milhões
de euros para a saúde mental. Será que, afinal, desistiu das pessoas?