I SÉRIE — NÚMERO 19
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O Sr. António Filipe (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Ministra, os problemas na área do emprego e segurança social não nasceram com a COVID-19, mas agravaram-se de uma forma dramática, como sabemos.
Os trabalhadores, os desempregados, os reformados e pensionistas, os idosos e os cidadãos com
deficiências já se encontravam numa situação de fragilidade.
A legislação laboral não está melhor do que nos tempos da troica e o mau funcionamento da segurança
social continua a suscitar profundas preocupações e a acentuar injustiças, como um recente relatório da
Provedora de Justiça veio sublinhar. A reposição de direitos e rendimentos a partir de 2015 não foi irrelevante
— e não a desvalorizamos —, mas a situação em 2020 não é de molde a justificar retrocessos em 2021. Bem
pelo contrário, o que se impõe é uma política audaciosa, de combate aos baixos salários, à precariedade laboral,
à pobreza, às discriminações, às desigualdades e injustiças, que continuam a marcar profundamente a realidade
do nosso País.
Com a COVID-19, o Orçamento do Estado para 2021 passou a ser de emergência nacional, recaindo sobre
a área do emprego e segurança social uma enorme responsabilidade.
Este não pode ser um Orçamento de continuidade, porque não há nenhuma continuidade na situação em
que o País se encontra. Não basta dizer que, na crise em que o País se encontra, o que é preciso é ter um
Orçamento, seja ele qual for, sob pena de agravar a crise. Não, o que pode agravar a crise é ter um Orçamento
que não esteja à altura de lhe dar resposta.
A dimensão da crise que o País atravessa exige uma resposta à altura, não apenas no plano sanitário, mas
também, e incontornavelmente, na resposta aos gravíssimos problemas sociais que estão criados.
As pessoas que passam por tremendas dificuldades não podem ser deixadas para trás. Não é possível
enfrentar esta crise, mantendo políticas de baixos salários e de degradação das condições laborais.
A resposta à crise exige um apoio decidido às camadas sociais mais fragilizadas. O alargamento da rede de
equipamentos sociais de apoio à terceira idade, cujas imensas fragilidades têm sido postas em evidência nos
últimos tempos, e o alargamento da rede de creches e a sua gratuitidade são necessidades sociais
incontornáveis.
Tal como são inadiáveis medidas de reforço do complemento solidário para idosos, o aumento das pensões,
particularmente das mais baixas, a eliminação de penalizações no acesso à reforma por parte de trabalhadores
com longas carreiras contributivas ou por desempregados de longa duração, o alargamento das condições de
atribuição do subsídio de desemprego ou o apoio a trabalhadores que viram os seus rendimentos
dramaticamente afetados pela paralisação da sua atividade económica.
O Orçamento do Estado para 2021 não pode esquecer o reconhecimento que é devido aos trabalhadores
que têm garantido o funcionamento ininterrupto de serviços sociais indispensáveis, em condições de elevada
penosidade, insalubridade e risco, e não pode pactuar com situações em que a COVID-19 seja um pretexto para
despedir ou para cortar salários e direitos aos trabalhadores.
Não basta, Sr.ª Ministra, elogiar os trabalhadores que estão na linha da frente a combater a epidemia, os
trabalhadores que garantem serviços essenciais, os que correm o risco de usar os transportes públicos para ir
trabalhar ou os que, por razões sanitárias, estejam impedidos de ir trabalhar. Os elogios não bastam.
Este Orçamento, para ser socialmente aceitável, tem de dar uma resposta clara, uma resposta que as
pessoas sintam, perante a gravidade dos problemas que as afetam no seu dia a dia. A questão que está em
cima da mesa, Sr.ª Ministra, é a de saber da disponibilidade do Governo para fazer esse caminho durante o
debate na especialidade.
Esperamos uma resposta clara do Governo a este respeito.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Helga Correia, do Grupo Parlamentar do PSD.
A Sr.ª Helga Correia (PSD): — Começo por cumprimentar a Sr.ª Presidente, os Srs. Membros do Governo e as Sr.as e os Srs. Deputados.