I SÉRIE — NÚMERO 26
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como garante de postos de trabalho, ignorando que 2600 já desapareceram e o plano de reestruturação prevê
mais uns milhares de cortes de postos de trabalho? Foi a importância da TAP para a coesão nacional,
ignorando que a primeira revisão de rotas reservou para Porto e Faro, como origem ou destino, três rotas, num
total de algumas dezenas? Qual foi o argumento que a convenceu? Se não foi nenhum destes, só sobra um: o
vosso proverbial ódio a qualquer coisa que seja privada.
Segunda curiosidade, não sei que valor é que o Bloco achava que a TAP ia custar aos contribuintes, mas
vamos admitir que são os 1700 milhões de euros que já estão comprometidos e que não são os 4000 milhões
de euros que os sindicatos dizem que vão ser necessários. A pergunta muito simples que tenho para colocar é
a seguinte: se forem esses 2000 ou 3000 milhões, quais são, concretamente, as despesas e os serviços
públicos que o Bloco de Esquerda advoga que se vão cortar para suportar a TAP ou, se não quiser cortar
nada, quais são os impostos que vai advogar que subam para pagar a TAP?
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira concluir, Sr. Deputado, se fizer favor.
O Sr. João Cotrim de Figueiredo (IL) — Perante esta realidade, os portugueses têm o direito de saber o que defende o Bloco de Esquerda, isto é, que impostos quer aumentar ou que serviços públicos querem
cortar.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Afinal, são quatro e não três os Srs. Deputados que se inscreveram para pedir esclarecimentos, os quais terão resposta conjunta da Sr.ª Deputada Isabel Pires.
O próximo pedido de esclarecimento cabe ao Sr. Deputado Carlos Silva, do PSD.
Tem a palavra, Sr. Deputado.
O Sr. Carlos Silva (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, o Bloco de Esquerda, com peso na consciência e numa espécie de «desculpa de mau pagador», traz-nos aqui hoje um debate relevante e
preocupante, que é o processo tortuoso de reestruturação da TAP.
Refiro «desculpas de mau pagador» porque também tem responsabilidades neste negócio ruinoso para os
portugueses, negócio esse que teve lugar em 2016, na renacionalização da TAP. Foi com o vosso apoio!
O Governo fundamentou este negócio desastroso com base no interesse nacional, mas, verdadeiramente,
o que aconteceu foi a imposição da cartilha ideológica da geringonça. E, por isso, insisto: os senhores à
esquerda do Parlamento são responsáveis por esta situação na TAP!
Sr.as e Srs. Deputados, os sindicatos acusam o Governo de não terem sido ouvidos e de falta de
informação. Os sindicatos acusam, ainda, o Governo de manipulação de dados e uso de números
contraditórios, e, por isso, interpuseram uma providência cautelar a pedir o acesso a toda a informação de
gestão.
O Governo está a conduzir este processo de forma pouco clara, sem que os portugueses percebam o que
se vai passar no futuro da TAP. Os sindicatos têm toda a razão nas queixas da falta de transparência. A
própria Assembleia da República não conhece o teor deste plano. O Ministro, já várias vezes chamado ao
Parlamento, não prestou qualquer esclarecimento. O que obtivemos foi um folclore de propaganda por parte
do Ministro a tecer loas ao negócio, dizendo que agora são os portugueses a pagar e, por isso, mandam.
Mandam, mas não sabem que mandam, nem por que mandam.
Sr.as e Srs. Deputados, o que se está a passar nas costas dos portugueses e dos trabalhadores da TAP é a
preparação de um programa em que apenas se conhecem as consequências desastrosas para os
trabalhadores. Lamentavelmente, o plano tem sido apresentado a conta-gotas, utilizando os sindicatos para
dar as más notícias ao País. Isto é, claramente, um péssimo exercício para que se consiga um plano
sustentável, mas também um mau sinal para a democracia.
Nessas circunstâncias, deixo uma pergunta ao Bloco de Esquerda: não acham que, de uma vez por todas,
os portugueses, porque mandam, devem saber com clareza o que se passa com o dinheiro dos contribuintes
que vai ser utilizado na TAP?
Aplausos do PSD.