4 DE DEZEMBRO DE 2020
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O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Cabe, agora, a palavra ao Sr. Deputado Bruno Dias, do PCP, também para pedir esclarecimentos.
Tem a palavra, Sr. Deputado.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sr.ª Deputada Isabel Pires, a TAP é uma das mais importantes empresas de Portugal. E se os custos inerentes à viabilização e desenvolvimento da
empresa são consideráveis, os prejuízos para o País de uma eventual destruição da TAP seriam
incomparavelmente maiores.
O Sr. Carlos Silva (PSD): — Não está demonstrado!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Ora, num contexto particularmente difícil para a TAP, é inaceitável que a solução seja a de condicionar a defesa da companhia aos ditames de Bruxelas com um plano de
reestruturação que já deixa à vista consequências intoleráveis para o Grupo TAP e os seus trabalhadores.
Depois das promessas do Governo de manter a TAP como empresa estratégica e com a sua dimensão,
vem agora a público que este plano de reestruturação aponta para mais redução do número de trabalhadores,
na ordem dos milhares — para além de todos os que nos últimos meses saíram por não renovação de
contratos —, reduções salariais, ataque à contratação coletiva. Os trabalhadores são olhados como as peças
descartáveis nesta crise quando, na verdade, são indispensáveis para a retoma da TAP.
Este caminho é inaceitável e o Governo tem de ser responsabilizado se este plano de destruição avançar.
Não admira que alguns venham clamar «deixem a TAP afundar-se!». É que enquanto a TAP e os seus
trabalhadores enfrentam estas supostas inevitabilidades de cortes operacionais, destruição de emprego e de
direitos, enquanto isso, os interesses das multinacionais vão aproveitando para ocupar o terreno.
Hoje mesmo, dia 3 de dezembro, uma dessas transnacionais, pseudo-low-cost — aliás, com presença em
Portugal — e com um cadastro vergonhoso de violação de direitos, anunciou a encomenda de mais aeronaves
para um total de 210 novos aviões. É isto que está a acontecer!
Por isso, Sr.ª Deputada, pergunto-lhe: não concorda que o País não pode ter apenas uma visão de
conjuntura para a companhia aérea de bandeira? Não considera que é indispensável planear e assegurar
capacidades, para além das restrições do momento?
É indispensável que os trabalhadores sejam envolvidos no plano de reestruturação; que não existam cortes
de pessoal ou a redução dos seus direitos; que não sejam alienados serviços; que o Governo, representando
o Estado como acionista maioritário, se responsabilize por este processo e não permita que se tome um
caminho de redução da TAP, de destruição ou de ataque aos trabalhadores e aos seus direitos.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — O último pedido de esclarecimento cabe ao Sr. Deputado Carlos Pereira, do Partido Socialista.
Tem a palavra, Sr. Deputado.
O Sr. Carlos Pereira (PS): — Sr. Presidente, queria, antes de mais, agradecer à Sr.ª Deputada Isabel Pires pela intervenção e pelo facto de ter trazido um tema tão relevante como é o caso da TAP.
Gostaria de dizer que, no quadro da sua intervenção, o Partido Socialista está de acordo com grande parte
das questões que colocou.
Não vale a pena estarmos a aprofundar muito a questão da privatização feita pelo PSD/CDS — aliás, feita
a mata-cavalos, à 25.ª hora, por razões que ainda estão, hoje, por explicar —, vamos deixar isso de lado. Já
todos sabemos o que se passou e digamos que a solidez financeira da TAP só foi recomposta depois da
recompra, na sequência dessa privatização.
Mas estamos de acordo relativamente à questão que referiu, a da importância para a estratégia da
economia portuguesa, estamos de acordo que não podemos prescindir do impacto e do contributo que a TAP
tem para o PIB no quadro das exportações portuguesas; estamos de acordo que não podemos prescindir da
criação de trabalho, da questão das compras feitas às empresas nacionais. É um conjunto de variáveis
significativas que, do nosso ponto de vista, são muito importantes, pelo que o Grupo Parlamentar do Partido