I SÉRIE — NÚMERO 28
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biodiversidade e a vida animal representam não pode ser menosprezado. É por isso mesmo que, existindo um
claro problema na captura ilegal de aves, incluindo de espécies com grande impacto nos ecossistemas,
propomos a interdição do fabrico, posse, utilização e venda de artefactos que sirvam unicamente para caçar
espécies não cinegéticas e cuja prática é ilegal. Não faz qualquer sentido que continuemos a permitir a
manutenção de um sistema e cadeia económica sobre utensílios utilizados para práticas proibidas — reitero,
proibidas — pela atual legislação e que põe assim em causa o compromisso e esforço nacional e internacional
para a conservação da natureza e a sustentabilidade ambiental, sem que nada seja feito.
Por outro lado, não podemos ignorar também o declínio em particular de determinadas espécies, como é o
caso do coelho-bravo, classificada como «em perigo». Para além do valor que esta espécie encerra em si
mesma, não podemos descurar a importância que estas espécies têm para a sobrevivência de outras espécies,
inclusive espécies ameaçadas de extinção, como é o caso do lince ou do lobo ibérico, no nosso País, cujos
projetos de conservação dificilmente poderão vingar se não protegermos todas as espécies deste ecossistema,
incluindo as presas destes predadores.
Propomos, ainda, uma moratória sobre a caça à rola-comum, uma espécie classificada como «vulnerável» e
cuja população se encontra em decréscimo populacional desde 1980, ou seja, há 40 anos, sem que nada seja
feito para travar o seu desaparecimento, acompanhando a tendência de declínio na Europa, algo que é
evidenciado por inúmeros estudos e cujo alerta também já foi dado pela União Europeia. A pressão que existe
sobre estas espécies, aliada a uma ausência de monitorização eficaz, tem representado uma clara ameaça à
sua conservação.
Se queremos garantir a conservação de espécies e reverter a destruição de habitats e da biodiversidade no
nosso País este é o momento de atuar e de unir esforços nesse sentido, com base na opinião e no conhecimento
das organizações e dos especialistas, que têm vindo a alertar para a necessidade urgente de se intervir para se
evitar a sua extinção, colocando de lado os interesses daqueles que têm, de forma absolutamente negacionista,
obstaculizado políticas mais eficazes de recuperação destas espécies.
Se estas três propostas que hoje aqui apresentamos encontrarem qualquer voz de oposição, isso só poderá
significar um apoio à extinção destas espécies e à caça ilegal, o que é manifestamente incompreensível.
Queremos acreditar que esta não é a posição de nenhum dos partidos desta Assembleia ou de nenhum dos
Srs. ou Sr.as Deputados.
Na hora de votar, iremos acompanhar aquele que tem de ser um compromisso, não apenas da sociedade
civil, das organizações não governamentais e da esfera de preocupação das gerações futuras, mas também
uma preocupação e um compromisso político de travar o desaparecimento das espécies e o compromisso de
continuarmos a ter um planeta vivo.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para apresentar as várias iniciativas legislativas do Partido Ecologista «Os Verdes», tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana Silva.
A Sr.ª Mariana Silva (PEV): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Na discussão deste conjunto de propostas, e como primeira nota, Os Verdes consideram que é fundamental proceder a alterações legislativas
no sentido de garantir ou de compatibilizar os vários interesses envolvidos, desde logo a defesa da
biodiversidade, a atividade cinegética, mas também o próprio desenvolvimento regional ou a dinâmica
económica que a atividade cinegética representa, sobretudo nos territórios de baixa densidade.
É, portanto, necessário garantir, sobretudo, a preservação da biodiversidade, mas, ao mesmo tempo, é
necessário não perder de vista um dado importante para a discussão que tem a ver com o facto de a caça
constituir um elemento integrante do mundo rural.
Estamos a falar de um elemento com importância, não só enquanto contributo para o combate ao abandono
do mundo rural, mas também para o próprio equilíbrio ecológico e, em matéria de caça, Os Verdes mantêm a
sua posição.
Sendo os recursos cinegéticos um bem renovável mas finito, impõem-se medidas que garantam e potenciem
a sua preservação, nomeadamente no âmbito de uma política de ordenamento do território, tendo sempre
presente que esse nobre propósito não pode ser procurado unicamente com a exclusão do exercício da caça
por aquelas pessoas que têm menos recursos económicos.