17 DE DEZEMBRO DE 2020
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Entretanto, num processo que habitualmente dura anos, a ciência descobriu uma vacina, aliás, várias.
Ultrapassando impasses e preconceitos, foi possível unir a Europa à volta da sua aquisição e do financiamento
inédito da recuperação.
Entramos, agora, numa nova fase dessa cooperação. Até ao final do ano, antecipa-se a aprovação da
primeira vacina, a que se seguirão outras mais, vacinas seguras e eficazes, gratuitas e acessíveis, distribuídas
por toda a Europa, ao mesmo tempo, de forma proporcional.
O SNS tem vindo a preparar-se para administrar estas vacinas, com um plano sólido e justo e com
prioridades estabelecidas. Este será, necessariamente, um processo gradual, mas permitirá progressivamente
começar a respirar outra vez, embora, por algum tempo, ainda com máscara, ainda a aplicar medidas de
contenção e de prevenção da pandemia. Este é um virar de página que exige de todos nós responsabilidade e
paciência.
Enquanto formos virando a página da pandemia, vamos ter de continuar a escrever novos capítulos no
apoio à economia. Temo-lo feito paulatinamente, evoluindo da mesma forma que as dificuldades que se têm
feito sentir, num enorme esforço que, até agora, se traduz em 29 mil milhões de euros. Mas, além de
responder às feridas do imediato, temos de construir o futuro da nossa economia e do nosso País.
Portugal foi mesmo o primeiro País a apresentar à Comissão Europeia o seu Plano de Recuperação e
Resiliência, um plano que está a ser negociado, sem perder tempo, para que possa vir a ser aprovado até ao
final de janeiro. Este é um plano de investimento público e privado, não para regressar ao passado, mas para
vencer o futuro. Trata-se de uma oportunidade para superarmos os obstáculos que bloqueiam o
desenvolvimento do nosso País há demasiado tempo, a oportunidade de escolher novos caminhos para o
nosso País, mais verdes, mais inovadores e de maior justiça social. São caminhos que garantirão um futuro
melhor para o nosso País e, em particular, para os mais jovens, para a minha geração.
Que caminhos traçamos para o nosso País? Uma indústria que se posicione e que cresça na
reconfiguração mundial das cadeias de valor. Uma economia do conhecimento, onde empresas e ciência
sejam parceiras, que crie emprego, trabalho digno e melhores salários.
Para isso, vamos precisar de superar o nosso défice secular, o das qualificações, de capitalizar as nossas
empresas e de reforçar as nossas ligações não só transfronteiriças, mas também, e sobretudo, no interior.
Precisamos, ainda, de realizar a visão do saudoso João Vasconcelos de um Portugal digital, onde as
empresas sejam apoiadas na sua transição, onde a Administração Pública use tecnologia para facilitar a vida
dos cidadãos e onde a escola pública digital esteja mesmo ao alcance de todos.
Queremos ser um País que lidere a transição verde, que a torne justa e que faça dela crescimento,
valorizando a floresta, protegendo os recursos hídricos, descarbonizando os transportes públicos, ganhando
eficiência energética e conquistando mercado na economia circular.
Finalmente, é hora de reconhecer que as desigualdades são não só injustas, como um empecilho ao
crescimento, que a austeridade acentua as desigualdades e desfavorece o crescimento. Precisamos de
eliminar a pobreza e de reforçar respostas sociais. A habitação tem de ser um direito e não matéria de
especulação. Além destes tempos de pandemia, vamos precisar de capacitar o Serviço Nacional de Saúde.
Sr. Presidente, esta não é a altura de fazer apenas o mínimo necessário. É altura de sermos ambiciosos,
num tempo de responsabilidade. Só poderemos dar esperança ao País, aos jovens, aos desempregados, às
empresas se mostrarmos essa ambição, se dermos corpo a uma visão do que queremos para o nosso País,
que sirva de farol às nossas políticas e decisões.
A minha geração já viu uma crise económica antes, que lhe adiou os sonhos, em que lhe foi sugerido
emigrar. Foi uma crise que, para muitos, impossibilitou frequentar ou concluir estudos superiores, que votou ao
desemprego e à precariedade o início dos nossos percursos profissionais. Desta vez, está nas nossas mãos
fazer diferente. Temos a obrigação de fazer mais e melhor.
O ano de 2021 será o nosso tempo de agir. Não nos iludamos de que tudo se transformará após as 12
badaladas da meia-noite, após a primeira vacina ser administrada ou após o plano de recuperação ser
aprovado. Mas a recuperação, essa sim, virá, passo a passo, num passo certo e confiante, num caminho de
esperança e de liberdade, que construa, agora e para o futuro, a melhoria das nossas condições de vida.
Aplausos do PS.