I SÉRIE — NÚMERO 31
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a cada instante, que todo o cuidado é pouco e nenhum sacrifício é demais quando o que está em jogo é a vida
das pessoas.
Vencer a longa e difícil luta contra a pandemia não é apenas responsabilidade do Governo, do Parlamento
ou das instituições, é uma responsabilidade conjunta, de todos e de cada um de nós. Sei que estamos todos
cansados. Mas, individual e coletivamente, precisamos de empreender um esforço final, por mais doloroso que
ele possa ser, pois se há uma certeza, ao dia de hoje, é que o vírus se alimenta do nosso comportamento, e
dele, só dele, depende, em grande medida, a vida de muitas pessoas.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção pelo Grupo Parlamentar do PSD, tem a palavra o Sr. Deputado Carlos Peixoto.
Faça favor, Sr. Deputado.
O Sr. Carlos Peixoto (PSD): — Sr. Presidente, Sr. Ministro, Sr. Secretário de Estado, Sr.as e Srs. Deputados: O PSD viabilizou todos os anteriores pedidos de declaração e de renovação do estado de emergência. Também
vai viabilizar este.
Os dados são o que são e entendemos que o Governo continua a precisar que este regime excecional vigore
para poder implementar medidas de contenção da pandemia.
Sabemos, desde o primeiro dia, que essas medidas atingem severamente pessoas e empresas, mas, entre
a tormenta de uma crise económica no País e o risco sério para a saúde e vida de cada um de nós, não há por
onde escolher. Sem vida não há economia e, sem saúde, a vida não é a mesma coisa.
Não faremos qualquer aproveitamento político gratuito deste flagelo. Mas, da mesma forma que a COVID
não pode ser terreno fértil para expor as fragilidades do Governo, também o estado de emergência não pode
ser uma máscara para esconder os seus erros.
No verão, o Governo esteve, confiadamente, a banhos quando devia estar afincadamente a trabalhar na
estratégia de recuperação dos milhões de consultas, tratamentos e cirurgias que as suas opções políticas
comprometeram. Também por isso não foi capaz de travar o brutal aumento da mortalidade e não foi diligente
nos lares para conter os contágios e os óbitos da população mais idosa.
Não há quem não receie que, se não acertou no plano da vacinação contra a gripe, o Governo possa também
falhar no plano da vacinação contra a COVID. Até porque, restringindo este plano e a sua aplicação aos centros
de saúde, é muito difícil que estes centros de saúde, sem receberem orientações e sem terem dados
centralizados para organizarem os processos de chamada das pessoas, possam desempenhar bem o seu
trabalho.
Tudo isto causa legítima apreensão e desconfiança, agora maiores, com as regras mais abertas que se
anunciaram para as quadras do Natal e do Ano Novo.
É compreensível, como já aqui foi dito, que se pretenda suavizar o nível de cansaço e de exaustão com tanta,
mas tanta, contraditória, confusa e injusta proibição.
Estamos todos ansiosos por passar o Natal em família, mas, Srs. Deputados, o dilema persiste e a adesão
à realidade tem mesmo muita força. Os contactos próximos favorecem os contágios e a ciência explica o que a
seguir acontece: os números disparam.
Com a vacina a caminho, ainda que distante, ou o Governo é ponderado e inteligente ou é simpático e
popular. As duas coisas ao mesmo tempo podem não dar bom resultado, pode ser algo explosivo e pode fazer
detonar a «bomba relógio».
Na última semana, os contágios aumentaram 4% — e só não aumentaram mais porque o número de testes
diminuiu — e os óbitos subiram 7%.
O Governo português é o único na Europa que não implementou medidas de restrição de circulação entre
concelhos, nos próximos 15 dias, mesmo nos de elevado risco. E, que se saiba, é o único que não deu qualquer
indicação de referência para o número de pessoas que deverão agrupar-se nas reuniões familiares ou para
adotar comportamentos padrão.
Não devemos nem queremos cair na caricatura de outros países, que implementaram medidas consideradas
anedóticas, mas temos de ser mais racionais e mais frios na análise.