I SÉRIE — NÚMERO 42
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Os 1000 enfermeiros — repito, 1000 enfermeiros — que emigraram em 2020 fazem uma enorme falta, no
sufoco que hoje se vive nos hospitais.
Falta preparação para lidar com o encerramento das escolas. Não seria hoje, aqui, que o Governo deveria
dizer como pensa enquadrar no novo estado de emergência o regresso às aulas?
Pois, não se percebe. Não se percebe porque não dá estabilidade às escolas, aos alunos e professores, nem
às famílias. Não se percebe, porque as escolas deveriam, desde o início do ano, como o Governo previu, estar
preparadas para o ensino à distância e continuam a não ter os meios informáticos ao seu dispor para o fazer.
Não se percebe porque não se dá, na perspetiva do Governo, essa afirmação de um plano agora para o futuro.
E às famílias, às mães ou pais que têm de ficar em casa para tomarem conta das suas crianças, não se dá
qualquer horizonte para essa perspetiva e nem se equipara, tão só o mais natural, ao atual regime de layoff o
apoio que existe para quem é obrigado a ficar em casa porque não tem onde deixar as suas crianças. Hoje,
onde o Governo decide pagar a 66%, não se percebe porque não paga a 100%, exatamente o mesmo que
pagaria se fosse o layoff de uma empresa privada.
É nesta estabilidade, nesta preparação e nesta prevenção que o Governo está a falhar.
Mas, já agora, também lembramos como o Governo não responde, alertado para esse efeito, àquelas
pessoas a quem o subsídio de desemprego terminou em novembro ou em dezembro e que não têm qualquer
acesso a qualquer apoio social. E, como todos nós percebemos, não é confinados e com uma economia
paralisada que essas pessoas conseguem chegar ao emprego. Não se percebe como essas pessoas ficam para
trás, sem os apoios que deveriam ter.
E à pergunta se havia, se há dinheiro para ajudar estas pessoas, chegou-nos ontem a resposta da execução
orçamental de 2020: face ao estimado, ao défice que era previsto, o Governo apresenta uma meta que fica 3500
milhões de euros abaixo do previsto. Ou seja, face à crise máxima, o Governo apresenta-se poupadinho, faltando
no apoio às famílias e à economia. É todo um Orçamento Suplementar por executar, são apoios que se atrasam
ou que nem sequer chegam a ser lei, mas que fazem falta às pessoas e à economia, ou é investimento público
por fazer.
É por isso, porque o Governo tem tardado a fazer o que é indispensável, que o Bloco de Esquerda,
reconhecendo a necessidade do estado de emergência, não pode votar a favor da sua renovação.
A nossa abstenção é um cartão amarelo a um Governo que, para enfrentar uma das piores crises que alguma
vez tivemos pela frente, escolhe sempre as respostas mínimas, as poupadinhas, aquelas que custam tanto às
famílias e à economia e pelas quais pagaremos tanto no futuro.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado António Filipe, do Grupo Parlamentar do PCP.
O Sr. António Filipe (PCP): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro e demais Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: São duas as grandes prioridades que a realidade impõe, face à gravidade da situação
que estamos a atravessar. Prioridade ao reforço dos meios para identificar, isolar e testar contactos e prioridade
aos apoios sociais e às atividades económicas.
No plano sanitário, é importante que se utilize toda a capacidade de internamento e de resposta hospitalar,
seja em internamento geral, seja de cuidados intensivos. No entanto, ela não é inesgotável. Mais do que
aumentar estruturas físicas, como hospitais de campanha, camas e equipamentos para tratamento de doentes
em situação aguda, começa a tornar-se evidente que estamos muito próximos do limite dos profissionais de
saúde. Não é possível formar médicos, enfermeiros e outros profissionais de um dia para o outro e não é
sustentável que aqueles que existem trabalhem 24 sobre 24 horas.
No plano da saúde, a prioridade tem de ser, por isso, a de travar a propagação da epidemia.
As medidas de redução de contactos — como o designado «confinamento» — podem dar um contributo
relevante, mas, por si, só não chegam, nem podem perdurar no tempo indefinidamente. A solução imediata e
de futuro que é preciso considerar é o reforço dos meios para identificar, isolar e testar contactos. Reforçar as
equipas de saúde pública, contratar e mobilizar profissionais para tornar mais rápido o contacto com quem