29 DE JANEIRO DE 2021
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domiciliário. São precisos mais profissionais, mais investimento na contratação de profissionais e não apenas
por via dos esquemas precários que resultam do apoio lançado pelo Governo.
Portanto, precisamos de mais investimento, como aqui tem sido dito, mas precisamos de uma outra coisa. A
somar a todas estas dificuldades, coloca-se a questão do próprio modelo de funcionamento, do próprio modelo
de intervenção, do paradigma de institucionalização que prevalece. Precisamos de repensar, de alto a baixo,
todo o modelo de cuidados para idosos.
O desafio que queria lançar-lhe, Sr.ª Ministra, é no sentido de saber se o Governo está disponível para
repensar totalmente este modelo, contrariando a institucionalização, que é sempre uma rotura do quotidiano e
uma limitação de autonomia, contrariando a externalização para instituições privadas, para as IPSS, e a
consequente demissão do Estado na provisão pública, superando a separação totalmente artificial entre
cuidados de saúde e cuidados sociais e, também, investindo em respostas que sejam mais capazes de evitar a
institucionalização. É isso que propomos: mais respostas nas equipas multidisciplinares, na fiscalização, no
apoio domiciliário, melhores condições laborais.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Sr. Deputado José Soeiro, faça o favor de terminar.
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Sim, Sr. Presidente. São apenas mais 10 segundos. Mas também propomos um plano de desinstitucionalização, que deve ser um grande desafio para o País,
sobre o qual falarei mais detalhadamente na próxima intervenção.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem agora a palavra, nesta primeira ronda, a Sr.ª Deputada Diana Ferreira, do PCP.
A Sr.ª Diana Ferreira (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Gostaria de fazer algumas observações, considerando também as intervenções anteriores.
Desde logo, começo por responder, até por ter sido feita uma pergunta muito concreta ao PCP, à Sr.ª
Deputada Clara Marques Mendes, do PSD. Achamos que os acordos de cooperação e os compromissos que o
Governo tem com as instituições têm de ser cumpridos, e atempadamente, para que as instituições tenham,
naturalmente, condições de dar as respostas às quais estão obrigadas.
Sr.ª Deputada, permita-me também que lhe diga que o PCP defende — já o dissemos várias vezes — que
os direitos sociais são uma obrigação primeira do Estado. O que esta situação demonstra é que a transferência
das responsabilidades do Estado nesta área para instituições de solidariedade social, desresponsabilizando-se
de assegurar um conjunto de respostas em direitos fundamentais, contribui também para a situação que existe,
neste momento, de insuficiência de um conjunto de respostas e de dificuldades de muitas instituições que até
viram o acréscimo de responsabilidades em responder ao que têm, efetivamente, em mãos. Portanto, esta é a
grande falha: a desresponsabilização do Estado e a transferência dessas responsabilidades para outras
instituições.
Sr. Deputado João Paulo Pedrosa, permita-me apenas dizer que, em relação ao número de trabalhadores
que aqui referiu, está naturalmente a referir-se aos trabalhadores que estão abrangidos pela portaria que o
Governo publicou, que prevê que sejam, por exemplo, os trabalhadores em layoff a trabalhar em lares. Estamos
a falar disto, estamos a falar da portaria que não garante um posto de trabalho aos trabalhadores, que não lhes
garante um salário, mas que lhes garante uma bolsa! Estamos a falar desta precariedade!
Às pessoas que vão trabalhar para os lares, muitas vezes sem a formação completa que tem de ser garantida
— isso é absolutamente prioritário —, até em risco acrescido de contágio, estamos a dizer o seguinte: «Fiquem
por cá um tempo e, depois, voltem para a vossa situação de desemprego, depois voltem para o vosso layoff!».
Esta não é, de todo, a solução!
As brigadas de intervenção rápida, Sr.ª Ministra, estão aquém de ser a solução necessária que é preciso
garantir perante a situação que temos, mas também estão aquém de ser a solução para fazer um caminho de
resposta aos problemas estruturais de carência de meios humanos nos lares.