I SÉRIE — NÚMERO 48
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A pergunta que lhe deixo, Sr. Ministro, é esta: o Governo português, perante esta afirmação, continuará a
perseguir as metas orçamentais, ou aproveitará esta oportunidade para aumentar o investimento público,
necessário e imprescindível para fortalecer a resposta à crise pandémica que atravessamos?
Segundo tema: a 17 de novembro o Sr. Ministro afirmou, em resposta a uma pergunta do Bloco de Esquerda,
e cito: «Uma democracia, para ser plena, não pode admitir discriminações e, portanto, temos de combater
ativamente as discriminações onde quer que elas existam.»
Referia-se, concretamente, à concretização da estratégia europeia contra a discriminação de lésbicas, gays,
bissexuais, trans e intersexuais. Reiterou que a sua concretização será uma das tarefas da Presidência
portuguesa.
As declarações sucedem-se, mas a concretização de ações que reforcem a agenda da igualdade de género
e a agenda da luta antirracista parece estar arredada da prática desta Presidência, que se aproxima já do seu
meio.
A pergunta que lhe deixo, Sr. Ministro, é acerca dos retrocessos como consequência direta da pandemia da
COVID, nomeadamente o agravar das desigualdades salariais, o desequilíbrio entre a vida profissional e familiar
ou a violência doméstica. Será que a tónica colocada pela Presidência portuguesa no pilar europeu dos direitos
sociais, será que o 10.º aniversário da Convenção de Istambul, em abril, conseguirão trazer o tema da luta contra
as desigualdades para a ação política da Presidência portuguesa?
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros.
O Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros: — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Fabíola Cardoso,
deixe-me começar pela parte final da sua intervenção, apenas para contestar, amigavelmente, se me permite,
a sua referência a Portugal como um país periférico, pois há muitas áreas em que Portugal é um país liderante,
um país de vanguarda. Não sei se a Sr.ª Deputada consegue ver este gráfico, que hoje foi publicado pelo Banco
Mundial, sobre as mulheres, a lei e a economia, cujo título é «Apenas 10 países no mundo têm plenos direitos
iguais para as mulheres».
O orador exibiu um telemóvel com o gráfico que mencionou.
A Sr.ª Deputada é capaz de imaginar qual é um dos países que está entre os 10 países do mundo com essa
igualdade plena de direitos na lei para as mulheres? Esse país é Portugal.
Aplausos do PS.
E há outras áreas em que Portugal não é um país periférico, mas estes bons desempenhos que temos só
significam maior responsabilidade para nós e eu quis colocar este debate sob o signo das nossas
responsabilidades, e fá-lo-ei até ao fim. Por isso, no âmbito da Presidência portuguesa do Conselho da União
Europeia, temos a responsabilidade de apoiar a Comissão Europeia na plena implementação das suas
estratégias contra a discriminação. Ainda hoje, a Comissão Europeia aprovou uma importantíssima estratégia,
também ela contra a discriminação, para a plena implementação dos direitos das pessoas com deficiência.
A União Europeia já aprovou a sua estratégia contra as desigualdades por motivo de orientação sexual e a
Presidência portuguesa tem como uma das suas responsabilidades a contribuição para a implementação dessa
estratégia.
Em relação ao discurso de ódio, ao racismo, ao antissemitismo, esse é também outro tema essencial da
Presidência portuguesa. Aliás, como já recordei em Comissão, em abril, teremos em Portugal, salvo erro, em
Coimbra, a conferência internacional sobre a luta contra o racismo e o discurso de ódio, o que tem sido um tema
recorrente nas reuniões da formação justiça, negócios internos e administração interna, do Programa da
Presidência portuguesa.