I SÉRIE — NÚMERO 48
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Se, por um lado, pode ser uma mais-valia na atração de turismo, por outro, não nos podemos esquecer que
também temos portugueses que residem no estrangeiro e querem vir para Portugal. Que garantias estão a ser
tomadas para os portugueses que se encontram em países onde a vacina é escassa?
Em segundo lugar, este passaporte é também denominado livre-trânsito digital, ou seja, é suscetível de expor
dados extremamente sensíveis de todos nós a novos perigos, ameaças e distopias.
Aliás, enquanto a COVID demorou meses a alastrar-se pelo mundo, um vírus informático é muito mais rápido.
E, Sr. Ministro, da mesma forma que há um ano nenhum de nós sabia que iria enfrentar um vírus orgânico,
também não sabemos se, num futuro próximo, não vamos enfrentar um vírus informático que ataque as nossas
infraestruturas digitais. Mas uma coisa sabemos: o Governo tem a obrigação de planear, o Governo tem a
obrigação de salvaguardar e o Governo tem a obrigação de proteger.
Nesse sentido, Sr. Ministro, que medidas concretas e específicas de proteção estão a ser exigidas pelo
Estado português a nível europeu para que este livre-trânsito digital acautele devidamente a nossa privacidade?
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para responder, o Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros.
O Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros: — Sr. Presidente, agradeço as perguntas
colocadas pela Sr.ª Deputada Catarina Rocha Ferreira e começo pela última, que é a mais simples. Que medidas
estamos a tomar? As medidas que impedem que haja transmissão de dados pessoais associadas ao passe
digital. Tão simples quanto isso.
A Sr.ª Deputada exprimiu, não sei se em nome do PSD, duas teorias absolutamente espantosas.
A primeira teoria é a teoria segundo a qual os efeitos da pandemia foram exclusivamente devidos a decisões
políticas erradas. Nunca tinha ouvido essa teoria e essa teoria ficará nos anais da história das epidemias, no
mundo.
Em segundo lugar, expendeu também a Sr.ª Deputada, não sei se em nome do PSD, a teoria segundo a qual
Portugal devia ter imposto a quarentena a todos aqueles que queriam entrar no seu território desde o início da
pandemia, incluindo talvez os nacionais portugueses, incluindo talvez os nossos emigrantes, mesmo quando
não tínhamos qualquer conhecimento direto fundamentado sobre os perigos associados, por exemplo, a novas
variantes. Registo também essa teoria.
Registo ainda que a Sr.ª Deputada formulou a pergunta provavelmente antes de ouvir o meu discurso, porque
há de convir, Sr.ª Deputada, que eu dediquei pelo menos 2 ou 3 minutos do meu discurso justamente a
exemplificar situações de cooperação internacional no âmbito do combate à pandemia.
Portugal foi um dos países que mais depressa mobilizou os voos de ação humanitária da União Europeia, no
projeto e na abordagem chamada Equipa Europa (Team Europe approach). De entre os primeiros voos, cinco
foram realizados para dois países de língua portuguesa, organizados justamente por Portugal, como primeira
grande resposta de apoio. Depois, fizemos novas respostas de apoio a esses países, no combate à pandemia,
designadamente providenciando máscaras, providenciando outros equipamentos de proteção individual,
formação de intensivistas, disponibilização de materiais e de máquinas para a realização de testes PCR
(Polymerase Chain Reaction), entre outras. Não acordámos para isso agora, Sr.ª Deputada. Ao nível da
cooperação, estamos envolvidos com os nossos países parceiros desde a primeira hora.
Depois, se me permite a expressão, é errada a ideia de que de um lado esteve a evolução científica e do
outro lado — o lado errado — teriam estado decisões políticas. Se não fosse a decisão política da União
Europeia, tomada pelos chefes de Estado e de governo, de construir um processo de aquisição em larga escala
e de distribuição das vacinas pelos Estados-Membros, cujo único critério é a população respetiva de cada
Estado-Membro, se não fosse essa decisão política, os laboratórios de investigação, as universidades e as
empresas não teriam as condições financeiras essenciais para que esta fosse a vacina mais rapidamente
produzida da história da Humanidade e fosse a vacina de distribuição mais maciça da história da Humanidade.
Aplausos do PS.