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I SÉRIE — NÚMERO 48

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Sr. Ministro, aos desafios mundiais emergentes, desde o reforço do multilateralismo às alterações climáticas,

à globalização, à evolução tecnológica e ascensão da China, acresce o novo paradigma provocado pela

pandemia. Importa tirar o máximo partido da política comercial para apoiar a recuperação da pandemia COVID-

19 e a transformação tecnológica e digital da economia europeia, com a ambição de criar uma Europa mais

forte, uma Europa mais resiliente no mundo.

Sr. Ministro, colocava-lhe, por isso, três questões.

A primeira questão, sobre a relação transatlântica, é a seguinte: o que pode significar ter novamente os

Estados Unidos com uma visão aberta de união e partilha de objetivos estratégicos comuns para o reforço do

multilateralismo?

A segunda é sobre a nova política comercial europeia. Já aqui foi referida a reunião que ocorreu ontem e

perguntava-lhe as principais conclusões deste encontro informal do Conselho de Negócios Estrangeiros, que

perspetivas terá esta revisão da política comercial relativamente ao desenvolvimento de parcerias comerciais e

económicas com África e com o Mediterrâneo e, por fim, de que forma Portugal poderá beneficiar da sua

concretização e, aliado ao novo Programa Internacionalizar 2030, que contributo pode dar para o crescimento

das exportações portuguesas.

Uma última questão sobre a transformação digital. A soberania e a liderança europeia na área do digital,

assim como a sua competitividade internacional e afirmação enquanto player relevante no cenário geopolítico e

estratégico mundiais, são indissociáveis, por exemplo, da questão da conectividade internacional. E é de

extrema relevância que a Presidência portuguesa tenha colocado particular ênfase justamente nesta questão,

sendo a conectividade internacional um pilar fundamental para a Europa assegurar a liderança digital na cena

internacional, na qual Portugal e as suas regiões autónomas poderão desempenhar um papel fundamental, pela

sua localização geoestratégica.

Pergunto que passos concretos Portugal tem dado neste domínio, que papel tem desempenhado a

Presidência portuguesa na afirmação da soberania estratégica e digital da União e de que forma esta aposta na

conectividade internacional, através de novas rotas de cabos submarinos, poderá beneficiar a União Europeia.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros,

Augusto Santos Silva.

O Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros: — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada, agradeço as

questões que colocou.

A Sr.ª Deputada já sabe que sempre que antecipo ter o gosto de estabelecer uma interação com Deputados

açorianos, trago a minha gravata açoriana, dos escritores açorianos, e um dos autógrafos que ela contém é o

de Natália Correia.

Natália Correia, em 1950, fez uma viagem aos Estados Unidos, levava uma missão específica, encomendada

por António Sérgio, a de se pôr em contacto com quem, nos Estados Unidos, pudesse apoiar a resistência

antifascista portuguesa. Natália Correia tinha, então, 26 anos. Escreveu um documento, sobre essa viagem, que

intitulou Descobri que era europeia, porque o que a mais impressionou foi o que ela considerava ser a profunda

diferença estrutural entre a maneira de ser dos europeus e a maneira de ser dos americanos. Mas desconfio

que Natália Correia, depois, mais tarde, talvez, lendo o grande romance norte-americano de Henry James, Os

Europeus, percebeu que essa diferença era mais aparente do que real e que a matriz europeia está mesmo no

âmago da civilização americana. E nós ou, pelo menos, eu, desde o dia 20 de janeiro passado, sinto esse

mesmo novo encontro, uma reaproximação entre esses dois lados europeus do Atlântico, um mais antigo, que

somos nós, a Europa, e outro mais recente, que são eles, os Estados Unidos. E lembro-me sempre do primeiro

poema da Mensagem, de Fernando Pessoa, quando Fernando Pessoa diz que a Europa jaz sobre os cotovelos,

olha para o futuro, olha para o Ocidente, futuro do passado, e o rosto com que mira é Portugal.

Portanto, em tudo o que a Sr.ª Deputada disse sobre a importância da relação transatlântica, o papel de

Portugal nessa relação e, especificamente, o papel das regiões autónomas, e também, naturalmente, dos

Açores — e nunca nos esqueçamos que Roosevelt dizia que estavam mais perto da costa leste dos Estados

Unidos do que o Havai da costa oeste dos Estados Unidos —, é absolutamente essencial. Isto pode parecer